Opinião
Economia desumanizada
Há famílias que estão a colocar as casas de primeira habitação a arrendar, para liquidarem as prestações dos créditos à habitação
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar as três taxas de juro diretoras em 25 pontos base. Esta foi a décima subida consecutiva, que já atingiu 450 pontos base, desde julho do ano passado.
O BCE justifica esta decisão pela (sua) avaliação das perspetivas de inflação, de acordo com os dados económicos e financeiros, a dinâmica da inflação e a política monetária. Eles mandam e a economia europeia, cumpre.
Este cenário tem levado milhares de famílias a recorrer às suas poupanças para pagar a renda ou o empréstimo da casa. Outros, sem soluções ou alternativas, equacionam entregar a casa ao banco.
Há famílias que estão a colocar as casas de primeira habitação a arrendar, para liquidarem as prestações dos créditos à habitação, regressando a casa dos seus pais e avós. O Governo, um pouco de mãos e pés atados pelas decisões do BCE, diz que vai apresentar uma proposta que permita reduzir e estabilizar as prestações do crédito à habitação.
A solução possibilitará que as famílias com empréstimos optem pela redução imediata da taxa de juro associada ao crédito, fixando, mensalmente, o valor a pagar por um período de dois anos.
Após este período, esta redução será diluída nas prestações seguintes até ao fim do empréstimo. Será uma ajuda importante, mas, de todo, insuficiente. Até porque no início desta semana registou-se mais uma (elevada) subida no preço dos combustíveis, justificado pelas alterações nos mercados de produtos refinados e pelo valor a que está a ser negociado o petróleo.
Este aumento vai esvaziar (ainda mais) as contas bancárias das famílias e das pequenas e médias empresas, gerando um impacto posterior nos preços dos bens e serviços face ao aumento dos custos de produção e de transporte. Cada vez mais percebemos que às famílias “sobra cada vez mais mês, no fim do dinheiro”.
Se não existirem mais intervenções por parte do Governo, os portugueses e a economia nacional não resistirão muito mais tempo, face à conjuntura geral e na constante subida das taxas de juros, dos combustíveis... Perante este cenário, urge implementar mais medidas de apoio às famílias, aos reformados e até equacionar-se o reforço e relançamento de medidas já implementadas.
Não faria sentido alargar o cabaz do IVA 0 a mais produtos considerados como bens essenciais? Não seria fundamental reforçar o programa do Apoio às Rendas? Não seria essencial baixar os impostos nos combustíveis? Não seria vital voltar a efetuar-se um pagamento extraordinário de Apoio às Famílias? Cada um de nós possui um número de cartão de cidadão, um número de identificação fiscal, um número da segurança social, um número de eleitor.... Ainda que sejamos números, que tenhamos números, que o mundo esteja a ser conduzido por números, qual é a lógica da existência de uma economia desumanizada? Onde é que nós, humanos, constamos em toda esta contabilidade?