Opinião
Encestar cogumelos
Já me fizeram provar os cogumelos da Roménia, uma triste refeição que não recomendo a ninguém
Ainda vai longo o caminho que nos separa do Inverno, e até já vi gente baralhada na praia em pleno mês de Novembro. Sem nunca quebrar, e sem nunca me esquecer das antigas tradições, lancei-me uma vez mais aos campos para encestar cogumelos. Constatando que não existem, nesta altura do ano, nenhuns micos para colher, talvez só lá para os lados, dizem-me, do Gerês.
Estas matas ancestrais que há muitos anos trilho, encontram-se ainda empoeiradas, distantes do frescor invernal que alimenta fungos. Nem meia-dose arranjei, para decorar sequer um pires. Que é como quem diz, fiquei logo apeado, no início do caminho. Contam-me que o míscaro da areia, foi entretanto avistado, mas muito timidamente e sem grande qualidade.
Seguindo avisado conselho, de outros com quem me cruzei, pus a gabardina no saco e castanhas apanhei. Mal-empregado dinheiro consumido no almoço, na gasolina e nas portagens, mais-valia ter ficado quieto no alpendre a retalhar azeitonas. Não se pode ter tudo, dizia-me o senhor padre, que se calhar tinha razão, naquilo que contava.
Ainda assim não desisto, e aguardo paciente que a chuva alague os campos, para que possa, enfim, encher a boca de fungos e arroz. Fica para já adiada, a velha merenda sazonal, pode ser que a chuva volte, lá para as bandas do Natal. Já me fizeram provar os cogumelos da Roménia, uma triste refeição que não recomendo a ninguém.
Falta-lhes muito a areia, o pinho e o rosmaninho, lembram carne de porco, borracha e cominhos. Pelo andar da carruagem, qualquer dia ainda faço, um raminho de flores com antúrio e medronho.
Confesso que não estava preparado para isto, uma enorme desventura que acaba por me deixar triste. Tudo isto me aborrece, me castiga o coração, falta de água no Inverno, e orvalho no Verão!?
São gostosas estas rimas, para quem gosta de cantar, se alguns não as gramam, podem bem ir passear.