Opinião
Escola, essa fonte de conhecimento e choro
Tramado, tramado foi ter de sair do abraço apertado que demos no meio da sala de aulas, com ele a chorar, com a mãezinha dele a chorar, com os outros putos todos ali ao lado sem perceber que melodrama vinha a ser aquele.
Ontem fui festejar o nascimento da filha de um amigo, é sempre lindo ver o olhar de deslumbre e orgulho a transformar-se lentamente em dois faróis desalinhados e ébrios. Hoje foi duro para todos os que lá estiveram, os próximos seis meses vão ser duros para ele. Aguenta-te. E, não te esqueças, já se têm filhos há milhares de anos. Conheço, inclusivamente, uma senhora que só ela teve 16.
Embora eu saiba muita coisa, decidimos pôr os miúdos na escola na mesma, até para que eles possam conviver com outras crianças… para além de mim. Depois de algumas diligências os miúdos lá conseguiram entrar nas respectivas escolas, eles não tinham notas para mais e eu também não.
Tencionava vir a este convívio desdramatizar o começo nas escolas novas e gozar com os pais que sofrem muito, que ficam ansiosos e chorosos e coisinhos. A minha ideia era chegar aqui à Rambo sentimental e dizer: “Vocês acabem-me já com essas mariquices pá, são homens ou são ratos? Zé, pára-me já de roer esse queijo.” É tudo normal, faz tudo parte, vai correr tudo bem. Eles têm de receber essa calma de nós, pais. Nós somos o farol deles durante a tempestade. Ai que frase tão linda! Prometo perdê-la assim que possa.
Bom, pelo sim pelo não, o meu filho está proibido de ir para o mar. Tudo passa, tudo se esquece. Quem é que se lembra do primeiro dia no infantário? Eu não me lembro nem do primeiro dia na universidade, nem do curso, só me recordo de ser qualquer coisa relacionada com astrofísica molecular, com alguma genética e umas pitadas de álgebra.
O problema é quando a realidade se intromete entre ti e as tuas coisas. No primeiro dia de aulas, o puto sofreu bastante. Entalou a pila no fecho éclair. Não, estou a gozar não sofreu assim tanto. Mudar de amiguinhos, de escola, de professora… deve ter-lhe custado. Mas com isso vivo eu bem.
Tramado, tramado foi ter de sair do abraço apertado que demos no meio da sala de aulas, com ele a chorar, com a mãezinha dele a chorar, com os outros putos todos ali ao lado sem perceber que melodrama vinha a ser aquele, e eu a fazer um esforço hercúleo para não chorar. Não é por nada, é só porque choro mal em público.
A miúda, como tem 10 meses, não sabe nada sobre a vida, não percebe muito bem porque raio a deixamos ali e como não precisa de grandes motivos para chorar, chora.