Opinião
Europa à beira de uma encruzilhada
É imperativo combinar a descarbonização com a competitividade económica
Recentemente, Mario Draghi pintou um retrato alarmante da Europa atual. O crescimento económico tem diminuído há décadas, abrindo um fosso significativo entre o PIB europeu e o americano. Enquanto isso, as famílias europeias veem o poder de compra estagnar, sentindo na pele o impacto dessa desaceleração.
Não é apenas uma questão de números ou estatísticas; é uma questão de futuro e relevância global. Com a população em declínio e o envelhecimento acelerado das sociedades, a Europa precisa desesperadamente impulsionar a produtividade para manter-se competitiva no cenário internacional.
As ambições são grandes e multifacetadas: descarbonizar a economia, digitalizar setores inteiros, fortalecer a capacidade de defesa e, ao mesmo tempo, preservar o modelo social (lidando de forma inteligente com a necessidade de imigração). Já muito nestas páginas falámos sobre a necessidade de acelerar inovação, capital de risco e empreendedorismo – somente a Apple vale mais do que todo o sector de IT europeu! Draghi aponta três áreas-chave para ação imediata.
Primeiro, fechar o gap de inovação com os EUA. É necessário não apenas gerar ideias, mas também transformá-las em produtos e serviços comercializáveis. Isso implica apoiar empresas inovadoras, facilitar o acesso ao financiamento e remover as barreiras regulatórias que sufocam o empreendedorismo (tudo receitas que já preconizámos nestas crónicas).
Segundo, é imperativo combinar a descarbonização com a competitividade económica. Não podemos permitir que a necessária transição energética se torne um fardo económico, que penalize indústrias e consumidores. Na verdade, a China deu-nos uma terrível lição liderando os setores de baterias, painéis solares, etc., que não só aumentaram a competitividade, como tornam o país mais verde.
Ao contrário de Draghi, eu penso que é preciso ser mais ambicioso em setores que não foram dominados pela China. A terceira receita passa por aumentar a segurança e reduzir dependências estratégicas. Num mundo cada vez mais instável geopoliticamente, a Europa não se pode dar ao luxo de depender de poucos fornecedores para matérias-primas críticas ou tecnologia digital.
É o momento de desenvolver uma política económica externa unificada, fortalecendo alianças com países ricos em recursos, construindo reservas estratégicas e assegurando cadeias de fornecimentos para tecnologias essenciais. Estas soluções exigem uma nova abordagem à cooperação intraeuropeia.
Não há mais espaço para procrastinação em nome do consenso ou medo de desagradar interesses particulares. Sem ação decisiva estaremos a comprometer não apenas o nosso futuro, mas também o meio ambiente e, possivelmente, a nossa própria liberdade e soberania.
Temos diante de nós uma oportunidade sem precedentes para redefinir o caminho da europa e garantir um futuro próspero para as próximas gerações. Cabe aos cidadãos e líderes europeus abraçar esse desafio com confiança e determinação, conscientes de que o amanhã que desejamos depende das decisões e ações que tomamos hoje.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990