Opinião

Four more years

5 nov 2020 17:20

Não sendo americano, penso que Kamala Harris reúne as condições que o mundo precisa. Mais quatro anos e veremos.

À hora que escrevo este texto, não é ainda conhecido o resultado das eleições americanas.

Arrisco, aliás, dizer que tampouco será conhecido o resultado à hora em que o JORNAL DE LEIRIA chegar às bancas. Ou melhor, antevejo que a contestação aos resultados – envolvendo uma batalha comunicacional e judicial – se possa arrastar durante várias semanas, quer ganhe Biden quer ganhe Trump. É por isto que antevejo “four more years” – mais quatro anos, o slogan que os apoiantes das recandidaturas presidenciais costumam entoar. Não assumo, e muito menos desejo, uma vitória de Trump.

Mas, feitas as contas e havendo ou não mudança de administração, muitas das políticas não serão substancialmente mudadas – em especial as que têm impacto internacional.

Ainda assim, suponhamos por uns momentos que Biden ganha as eleições e que toma posse.

As alterações políticas deverão ser profundas e imediatas, mas com um foco nas políticas internas.

O recém-eleito presidente deverá querer fazer aprovar medidas que contem no seu programa eleitoral.

As medidas com impacto na política externa deverão passar para segundo plano – e deverá começar por medidas que levantem pouca celeuma e poucos obstáculos internos.

Por exemplo, deverá ser feito um esforço para retomar as relações com aliados históricos (e.g. Europa, Canadá, etc.) que sofreu grandemente com a inépcia e falta de visão da administração Trump.

Eventualmente serão levantadas restrições ao comércio internacional com a Europa. Mas, para além do valor simbólico, os avanços serão tímidos.

Neste mesmo cenário, não deverá haver condições nem vontade política para alterações profundas na relação com a China.

Ainda que haja uma alteração do tom, a disputa entre EUA e China pela primazia económica continuará. E a tentativa de arregimentar aliados para a construção de um bloco mais forte no que se antecipa ser um mundo bipolar (i.e. com duas grandes potências dominantes) seguirá o seu curso. Decisões polémicas – como a reentrada nos Acordos de Paris sobre o ambiente, ou o revigoramento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares com o Irão – deverão ser remetidas para mais tarde.

Também continuará a insistência para que os aliados da NATO aumentem os seus gastos com defesa, libertando os recursos dos EUA para zonas geopoliticamente mais interessantes.

Em suma, do ponto de vista da relação com o Mundo, um possível mandato de Biden será um mandato de transição.

Procurando restabelecer pontes e diálogos com aliados históricos, tentando ressuscitar o multilateralismo.

Mas, os resultados práticos (a haver alguns!) só deverão fazer sentir-se no mandato que se inicia em 2025.

Esperemos que a transição se faça para um presidente progressista, preocupado com a agenda ambiental e que assuma o papel relevante que os EUA têm no mundo.

Não sendo americano, penso que Kamala Harris reúne as condições que o mundo precisa. Mais quatro anos e veremos.