Opinião

Leiria, cidade amiga do celíaco: um sonho à espera da realidade

20 mai 2022 15:45

É a doença alimentar mais frequente

Celebrou-se esta semana o dia nacional e internacional do doente celíaco. 16 de maio.

Ser doente celíaco significa não comer glúten. Simples. Mas não assim tanto.

Viver com uma restrição alimentar tem sempre repercussão na vida social de quem a tem.

Planear e antecipar são a regra de vida.

Onde espontaneidade não pode ser a excepção. Ou até pode, mas implica “na certa” ter que “passar fome” para não por em risco a sua saúde.

As restrições alimentares são uma realidade para quase 5% da população mundial, estando em franco crescimento, com um aumento em cerca de 50% no número de casos nos últimos cinco anos.

As alergias alimentares são as mais perigosas, e as mais diversas. Algumas, poucas felizmente, podem até matar em minutos.

Outras restrições alimentares são impostas por doenças autoimunes gastroinflamatórias, das quais a doença celíaca é o paradigma.

Sintomatologia grave surge poucas horas após a ingestão de quantidades diminutas e indetetáveis de glúten, para além das sequelas a médio e longo prazo.

Há ainda outro tipo de restrição alimentar, derivada da intolerância alimentar, sendo a mais famosa aquela à lactose, também ela com sintomatologia grave.

Associadas a estas restrições alimentares, surgem as restrições sociais.

A maioria dos serviços de restauração não estão preparados para dar resposta a estes doentes, quer seja pela falta de opção logo à partida quer seja pela falta de conhecimento sobre os requisitos específicos das suas dietas.

A contaminação cruzada é o “fantasma” que assombra estes doentes. A “moda das dietas” o seu inimigo.

Quantidades tão pequenas quanto “miligramas de miligramas” podem efetivamente causar dano a estes doentes.

O escrutínio à lista de ingredientes e rótulos respetivos é mesmo uma necessidade, não um capricho.

Por outro lado, a lei da oferta e da procura determina preços mais altos para estes “produtos especiais”, o que é verdade para quem por eles opta, mas não o é para quem a eles é obrigado.

Importa dar qualidade de vida a estes doentes, não só fisiológica, mas também psicológica e social.

Estes doentes devem ter o mesmo direito de frequentar os mesmos espaços dos seus amigos, dos seus familiares.

E não ter que se excluir de convívios sociais, que tanto se fazem de faca, garfo e copo na mão…

É importante facultar ferramentas a todos os intervenientes para uma resposta adequada, e discreta, que cada vez limita mais e mais pessoas, num mundo que se quer inclusivo a todos os níveis.

E daí o sonho: tornar Leiria uma cidade amiga do celíaco.

Capacitar a restauração da cidade para a inclusão de ofertas adequadas a doentes celíacos.

Porque é a doença alimentar mais frequente. De seguida as demais.

Conhecer as dificuldades destes serviços e trabalhar em conjunto para as resolver é o primeiro passo.

Colaborativamente acertar interesses e expectativas é o segundo. Um pequeno passo para uma restauração mais inclusiva.

Um passo gigante para um futuro mais inclusivo para os doentes com restrições alimentares.

Fica o desafio.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo ortográfico de 1990