Opinião

Letras | Ângulo Morto

3 out 2021 20:00

Uma escrita imagética e cheia de sinais. Uma paleta de cores em que o vocabulário é (re)criação e recreio para nós

Luís Quintais nasceu em 1968 em Angola. Antropólogo, poeta e ensaísta, leciona no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra.

Como antropólogo tem publicado ensaios em diversas revistas da especialidade sobre as implicações sociais e culturais do conhecimento biomédico, em particular sobre a psiquiatria e seus contextos.

Desenvolve atualmente investigação sobre as interações entre biotecnologias, arte e cognição.

Como poeta, publicou A Imprecisa Melancolia (1995), Lamento (1999), Umbria (1999), Verso Antigo (2001), Angst (2002), e Duelo (2004), obra a que foram atribuídos o Prémio Pen Clube de Poesia e o Prémio Luís Miguel Nava - Poesia 2005.

A coletânea de poesia completa Arrancar Penas a Um Canto de Cisne venceu o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE/C.M. de Amarante 2015-2016.

Ângulo Morto, décima quarta recolha de poemas de Luís Quintais, sublinha e amplia a diversidade de recursos a que nos habituou.

A poesia é aqui uma forma de meditação lírica que nos lança numa apreciaç ão do tempo, da sua substância e transfiguração.

A poesia é, nesse sentido, revisitação da experiência, mas também ponderação dos limites da linguagem e dos seus sortilégios.

“Amamos uma mulher, depois um continente perdido. Afinal, fomos nós que perdemos o norte. Alguém abre a porta, o vento do deserto sopra dentro da sala, somos levados para longe do paraíso, improvável ficção consentida. Marcamos o tempo, o compasso. A música depois do silêncio soa a notação desabrida, incontida fúria tomando de assalto as artérias que insistem no seu ofício de coisas vivas e frágeis.”

Esc rever é seguir curso no leito da morte. Um livro é sempre memória. Estas palavras refletem o que a poesia faz neste autor, e como com a ciência se faz impulso e ímpeto.

Tem uma escrita imagética e cheia de sinais. Uma paleta de cores em que o vocabulário é (re)criação e recreio para nós.

Aveludado e sofisticado, este livro conta-nos histórias de vida e amor. Familiar e perda desse alguém que é objecto dessa luxuosa manifestação poética. Para reler muitas vezes!