Letras | Bruno Nogueira: Aqui dentro faz muito barulho

O conhecido humorista português e mentor de vários projectos, divididos entre a televisão, rádio, e teatro, entre eles Deixem o Pimba em Paz, Contemporâneos, ou Tabu, mostra ser um pensador e uma mente inquieta que observa o mundo e nos partilha a sua visão como o faz na rádio no Tubo de Ensaio ou no recente podcast Isso não se diz.

Deu-nos também esperança nos dias de confinamento, com directos de Instagram promovendo a companhia higiénica com convidados. Com algum absurdo e humor, fez-nos sobreviver a algo que desconhecíamos, no memorável Como é que o bicho mexe.

Escreve semanalmente desde Novembro 2022 as páginas Talvez Crónica e das quais surgiu a edição deste livro. 46 são as crónicas que nos são oferecidas com ilustrações de Juan Cavia (“Balada para Sophie” e “Comer/Beber”) e prefácio de Miguel Esteve Cardoso com quem colaborou em Fugiram de Casa dos Seus Pais emitido na RTP. Em prefácio ilumina-nos o caminho de o que BN é e atinge com este livro “O humor está para a inteligência como os olhos para a cabeça...”

E entre a espuma dos dias com a insanidade de certos episódios, Dalai Lama e as suas brincadeiras com crianças de lá, as brincadeiras da igreja católica com crianças de cá, os disparates de António Costa e membros do seu governo são alguns dos exemplos. Mas também no pensamento mais profundo que passa muito por quem pensa e sente na mesma magnitude, ainda que “o que pense não é bonito” temas como a efemeridade e a saudade do presente, a parentalidade e o amor-próprio, a apreciação de ver as coisas devagar e com a alegria da simplicidade, são-nos partilhados de forma escorreita, com humor e sarcasmo, mas também com a seriedade de olhar para as coisas e muitas vezes com um novo olhar como no caso da crónica “As músicas que tratei mal”.

Não é um manual de leis nem muito menos tenta ser um livro de auto-ajuda, ainda que não faria mal a algumas almas passarem por aqui os olhos para se encontrarem com dúvidas bem direccionadas. Sem ser uma obra poética, banha-se nas mesmas águas que correm para um alto-mar de esperança.