Opinião

Letras | Catarina e a Beleza de Matar Fascistas

5 set 2025 09:46

Uma peça que não nos deixa indiferentes perante temas duros e que estão a acontecer neste preciso momento

Este é o texto que daria mais tarde lugar à peça criada por Tiago Rodrigues. Livro absolutamente fundamental de teor analítico e quase profético, não fosse a realidade ser tão exasperante quanto a exposição dos temas que aqui se encontram. A liberdade em contexto do advento duma nova extrema-direita, que cresce e incita o fantasma do fascismo em Portugal, e um pouco por todo o mundo. Os limites da liberdade de expressão e a utilização da violência na defesa dos seus valores mais sagrados. Como combater a desinformação e a forma engenhosa dos populistas comunicarem às massas?

A história gira em torno do encontro anual de família, onde um dos membros tem de matar um fascista. Uma tradição que une uma família colhida pela injustiça passada, e que desta forma decide fazer justiça pelas próprias mãos. Desta vez Catarina (evocação à mártir Catarina Eufémia), uma das jovens da família, terá de tirar a vida a um fascista. Surge, porém, um dilema. Surgem dúvidas. Surge sobretudo a questão da humanidade e da repulsa face ao critério de actuar como o inimigo. Onde falhara a democracia, tendo de matar fascistas para garantir a democracia e a liberdade?

No posfácio, Gonçalo Frota, brilhantemente nos convoca para os dias da criação da peça. Numa época que seria irrompida pela pandemia, e onde a liberdade mais do que nunca, estaria a borbulhar nas veias dos intervenientes. O processo é agregador e em que Tiago Rodrigues vai formando os tempos e a base, com intervenção dos actores, num trabalho de equipa. Um espectáculo, que de tão pertinente, também convoca o público no capítulo final, onde o ditador tem direito à palavra.

Uma peça que não nos deixa indiferentes perante temas duros e que estão a acontecer neste preciso momento. Acima de tudo, tomarmos partido da humanidade e da empatia, como “armas” de luta!