Opinião
Letras | Gramática da Fantasia: Maio Maduro Maio quem te pintou...
Sob a orientação da Sandrine Cordeiro e do Emanuel Jacinto, aka Libélula Teatro, um conjunto de adultos amadores, no sentido literal de darem de si e porem amor em tudo o que faziam, diferentes, de formas de estar distintas, de várias idades e interesses heterogéneos, fizeram do Teatro Miguel Franco o seu local de encontro semanal
Vou contar-vos uma história: hoje ecoou muitas vezes na minha cabeça a frase da música do Zeca, “Maio, maduro maio, quem te pintou… tirririturitu…”
Sei bem quem foi o Zeca Afonso e o que representa para a cultura portuguesa, mas talvez por ter nascido no final dos anos 70, e porque os meus pais ouviam outras músicas, não me lembro que o Zeca tenha feito parte da minha infância, como fizeram o Rui Veloso, ou os Delfins, ou os Xutos e Pontapés, ou o Variações, ou os Heróis do Mar, ou os Sétima Legião, ou a Lena D’Água... andava a pensar neste mês de maio de tirar o fôlego de tantas atividades, e pensei que não seria à toa que historicamente se fala na beleza grávida do mês de maio. “Que importa a fúria do mar... tirririturitu...” e dei com o Zeca no YouTube a empunhar um adufe... e lembrei-me da incrível residência artística que fiz em Idanha-a-Nova, a convite da malta do Mapas Natureza e em que também trabalhei com as maravilhosas Adufeiras de Idanha e do Relvas o icónico construtor de adufes... ou dos olhos azuis da contadora de histórias mágicas que conheci em Monsanto onde também o Zeca comprou uma casa, num momento da sua vida. Segue a história...
Somos feitos uns dos outros e layers das coisas que por nós vão passando. Maio culminou com muitas concretizações de muitas residências feitas memórias pelas quais fui passando neste primeiro semestre de 2023. Uma delas não foi só uma residência artística, foi uma casa. Nos últimos meses às quintas-feiras sempre à mesma hora, (com uns ensaios extra noutras casas, como a minha ou a da Joana) o jantar era composto de guiões, gargalhadas, cumplicidade e muita saída da zona de conforto na co-criação de sentido e na preparação de um espetáculo comum.
Sob a orientação da Sandrine Cordeiro e do Emanuel Jacinto, aka Libélula Teatro, um conjunto de adultos amadores, no sentido literal de darem de si e porem amor em tudo o que faziam, diferentes, de formas de estar distintas, de várias idades e interesses heterogéneos, fizeram do Teatro Miguel Franco o seu local de encontro semanal e que culminou num espetáculo trazido a público a 27 de maio.
Vou repetir-me a dizer que cada pessoa é um artista, que as artes juntam pessoas, que transformam vidas e a trajetória das ideias, mas tenho o hábito de dizer o que penso e participar neste projeto foi muito gratificante e compensador e transformador, e sim, enumero assim e sem vírgulas para enfatizar a ideia.
Que bom que o nosso município acreditou e permitiu que esta transformação pudesse acontecer. E não fomos só nós, os atores, os encenadores e às vezes até os nossos filhos, quando não tínhamos onde os deixar... a fazer desta casa uma casa habitada... nada disso. Também esteve desde o primeiro dia a equipa técnica e a de produção com um sorriso paciente e disponível de quem também queria ir para a sua casa no final do dia e no fim no derradeiro ensaio estava todo um público que encheu a casa, elogiou, que aplaudiu, e que disse que tinha sido super criativo e necessário. Obrigada!
“Maio com meu amigo quem dera já, Sempre no mês do trigo se cantará, Qu’importa a fúria do mar, Que a voz não te esmoreça vamos lutar”
E quantas árvores conseguimos plantar... e quanta farinha colhida do semear?
…Continuamos na luta enquanto a voz não esmorece... E que tenhamos sempre muitas e boas histórias para contar… “tirririturituriiiirirrriiritu…”