Opinião
Letras | Leituras de Verão
Parece-me que será no sossego da toalha de praia que encontraremos as boas condições para uma leitura mais atenta e mais exigente
Nunca levei a sério esta moda das "leituras de verão" com listas de livros ditos "leves" para ler na praia, no jardim, na esplanada. Não aceito a ideia de que o verão tem necessariamente de ser a silly season nos jornais, na política e menos ainda nas leituras.
Tenho para mim que, enquanto desempenhamos as nossas funções profissionais, o tempo e a disponibilidade mental são tão escassos que dificilmente arranjaremos espaço para dedicar a obras de caráter literário. Assim, parece-me que será no sossego da toalha de praia, ou da espreguiçadeira da piscina ou até mesmo do sofá da nossa sala ou da nossa varanda que encontraremos as boas condições para uma leitura mais atenta e mais exigente. Foi nesta envolvência que, no tempo em que a profissão e a família me absorviam a tempo inteiro, aproveitei as férias de verão para, ao longo dos anos, ler os melhores autores portugueses da atualidade.
Este ano, entre as compras no híper, um amigo faloume de A Ordem de um escritor americano de nome bem português – Daniel Silva – que fizera uma grande investigação no Vaticano para o escrever. Autor que eu desconhecia completamente. Mas se aquele meu amigo recomendava… que remédio senão comprá-lo!
Toda a ação – frenética e empolgante – gira em torno de Gabriel Allon, o espião dos serviços secretos israelitas, que deixa tudo, desde a sua jovem esposa Chiara (também ela uma multifacetada espia) com quem passa férias, até aos seus dois filhos gémeos, ou a sua segunda ocupação, restaurador de arte em Veneza, que lhe serve de disfarce usando o nome de Mario Delvecchio, para responder às sempre exigentes solicitações dos seus superiores da Rua Rei Saul em Israel.
Desta vez, Allon – que, por circunstâncias anteriores, se tornara amigo do Papa recém-desaparecido e do seu secretário pessoal, o arcebispo Luigi Donato – é chamado a resolver a suspeita de assassinato do Papa Paulo VII que morre inesperadamente depois de, juntamente com o leal Donato, terem descoberto um evangelho apócrifo que vem trazer outra interpretação ao Novo Testamento.
Donato suspeita que a morte do seu Papa terá sido perpetrada por elementos de uma certa Ordem de Santa Helena, "uma obscura sociedade católica com ligações à extrema-direita europeia". Muito ao estilo de Dan Brown…
De leitura descomplicada, com muito diálogo e sem avanços nem recuos no tempo, consegue o leitor progredir rapidamente na narrativa, ajudado por todo um ambiente cheio de beleza, conforto, riqueza e facilidades, bem como por aventureiras andanças pelas mais belas capitais europeias.
O espião lembra, em muitas situações, o grande James Bond, (com ordem para matar) e os seus inimigos estão sempre ao nível da sua inteligência rápida e da sua ação demolidora.
Daniel Silva, filho de emigrantes açorianos, é um dos maiores autores de best sellers de espionagem americanos. A Ordem é o seu 20º livro de suspense político e religioso e vem na sequência de outros, como O Confessor (2003), Morte em Veneza (2004), Príncipe de Fogo (2005) com Allon como protagonista da luta israelita, os bons, contra os maus, os palestinianos.
Excelentes para as ditas leituras de verão…