Opinião
Letras | Limiar da Trilogia, Editora Manicómio
Este é o registo que ilustra com detalhe os trabalhos expostos e a beleza que advém muitas vezes do improvável e que acaba por nos ligar a todos
Este é o registo que fará perdurar o ciclo de três exposições com o mesmo nome, organizado pelo Manicómio, centro artístico e criativo sediado no Beato em Lisboa. Com múltiplos projectos que cruzam a arte, a criatividade, a transformação social e a saúde mental. Um centro constituído por artistas contemporâneos e criativos com doença mental, e onde fazem da arte e da criação objecto de transformação de estigmas sociais perante a loucura.
A exposição que decorreu em três actos e que se dividiu nas seguintes datas apresentou obras dos seguintes artistas: Acto1 (21/03 a 20/05) Anabela Soares, Micaela Fikoff, e Pedro Ventura. Acto2 (30/05 a 15/07) Bráulio Moreira, Carolina Carvalhal e Cláudia R. Sampaio. Acto3 (25/07 a 16/09) Filipe Cerqueira, Joana Ramalho e Zé dos Castelos.
Este livro representa com muito carinho e de forma muito cuidada todo o ciclo destacando-se a disrupção, a insanidade e a liberdade como elementos que ligam os seus autores e fazem chegar a toda a comunidade esses mesmos sentimentos, pois em tantos pontos senão todos, uma sociedade no seu todo também vive destes momentos.
Numa dialética que por vezes tenta responder “o que é normal?” vemos ao longo do livro como nas exposições a exortação da loucura como a necessidade de fuga do que é um certo monopólio da cultura e encontrar em cada um o que constitui o individualismo e idiossincrasia.
“O acto da arte, com extrema tensão que implica, a febre alta que o acompanha, pode alguma vez ser normal? […] o nosso ponto de vista sobre a questão é ‘a função da arte é a mesma em todos os casos e que não há mais arte dos loucos do que a dos dispépticos ou dos doentes do joelho’, Jean Dubuffet em L’Art Brut préferé aux arts culturels”.
Defender a loucura como normal a todos na criação. Este é o registo que ilustra com detalhe os trabalhos expostos e a beleza que advém muitas vezes do improvável e que acaba por nos ligar a todos.