Opinião
Letras | Qual fantasia qual quê, it’s the world stupid!
Diz o Beuys que arte é vida…dizem que a arte é subjectiva e que cada um a sente à sua maneira
Este texto devia falar de literatura, mas combinámos em tempos que poderia ser sobre o que eu quisesse, e podia ser que alguém me quisesse ler.
Gostava de estar em dia sim, e dizer-vos que este meu texto podia ter um pouco da energia do nosso querido Cardeal Tolentino, dos “Sumo Pontífices” da inteligência emocional e dos gurus da energia positiva e da motivação, das Cidades Invisíveis do Calvino, dos das artes que tanto gosto de ler, e da utopia de um mundo melhor, mais justo, hospitaleiro e democrático nas minhas palavras desta quinta-feira. Mas hoje estou mais em modo Bukowski, Danny Boyle, Conan Doyle, Allan Poe, ou Joker.
“Heal the world, and make it a better place for you and for me and the entire human race” diz a canção de outra das figuras icónicas que sempre me deixou de nervos em franja.
Estou como a outra Blá, Blá. Blá…uns querem salvar o planeta, outros varrem para debaixo do tapete querendo bem saber se algures no mundo há quem migre por sede, ou por fome, ou por um lugar seguro para viver; outros matam-se uns aos outros e os que poderiam ajudar na equação constroem muros para se barricarem no lado seguro da barricada e borrifam-se para os que em pânico, de vida e alma destroçada, ao frio e à fome ficam do outro lado, e, sem pejo, dormem descansados de aquecimento ligado e mesa farta. Outros violam os direitos humanos e aparecem todos os dias na televisão, impedindo mulheres de ser mulheres, de ir à escola ou de dar a sua opinião, mas também homens de serem homens justos e defensores de iguais direitos e deveres e todos sabem, mas ninguém faz nada.
Por cá brinca-se à política com birrinhas de poleiros que dificilmente tolero já aos meus filhos e enquanto isso, as pessoas enchem urgências, esperam horas, deixam-nas definhar porque não há condições ou porque também está exausto quem por lá trabalha. Como é possível haver pessoas que vão sozinhas para um hospital, deambularem a procura de um serviço e haver quem de rabinho confortável na cadeira e com a escalfeta debaixo dos pés, diga que a sra. ou o sr. tem de procurar…Inadmissível como não há dignidade e hospitalidade na doença. E são 4 da manhã, tem alta e se quiser chamo-lhe um táxi…Devia ser no mínimo obrigatório, que todos independente da sua idade ou estado de saúde fossem acompanhados ao hospital.
Como é possível que haja atualmente pessoas em burnout nas escolas, nos serviços e nos hospitais e nas suas casas? E os cães ladram e a caravana passa...
Diz o Beuys que arte é vida…dizem que a arte é subjectiva e que cada um a sente à sua maneira, mas perdoem-me a franqueza e subjetividade, mas esta arte-vida que estamos a viver hoje é muito, muito para além de horrível.
Deixemo-nos de fantasias … “it’s the world stupid!” “that 's life!”