Editorial

Manuel, o verdadeiro campeão

24 nov 2022 09:38

O mecânico da selecção de Andebol em cadeira de rodas nunca entrou no recinto de jogo, mas, seguramente, esteve sempre em campo: pelo exemplo de vida

Portugal conquistou o duplo título de campeão mundial e europeu na modalidade de Andebol em cadeira de rodas. A prova, que envolveu 9 equipas dos quatro cantos do mundo, disputou-se no passado fim-de-semana, nos pavilhões dos Pousos e Cortes, no concelho de Leiria.

A conquista, terá ficado mediaticamente diluída pela discussão do momento: deve ou não o Presidente da República deslocar-se ao Catar para assistir à estreia da selecção nacional de futebol no Mundial de 2022? 

O próprio Marcelo Rebelo de Sousa terá estado de tal forma distraído – o que não é seu hábito – que só na segunda-feira ao final da tarde, um dia depois do brilhante triunfo, endereçou uma mensagem de felicitações aos novos campeões mundiais e europeus. 

Quanto aos outros representantes dos órgãos de soberania, até ontem, não tinham enviado qualquer palavra de reconhecimento à equipa campeã. À equipa que fica para a história, por ter sido a primeira a vencer um mundial da modalidade. À equipa que celebrou a conquista em Leiria, uma das regiões mais representada em número de atletas, e a cidade escolhida este ano para Capital Europeia do Desporto. 

Para a vitória, contribuíram todos. Jogadores, treinador, equipa técnica, equipa médica, roupeiros e espectadores. Mas na fotografia de grupo, no dia da festa, há uma pessoa que surge ao lado da equipa, que nunca entrou no recinto de jogo, mas que, seguramente, esteve sempre em campo: pelo exemplo de vida. Falamos de Manuel Sousa, apresentado na ficha técnica desta competição, como mecânico. 

O atleta, que habituou a comunidade leiriense a vê-lo de rabo de cavalo e bigode farfalhudo fosse nos bares da cidade, nas maratonas em cadeira de rodas, em sessões dirigidas a pessoas com deficiências motoras ou em campanhas de sensibilização para eliminação das barreiras arquitectónicas, é, aos 69 anos, ele sim, um ilustre vencedor. 

Não apenas por ter somado mais um título aos três Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal e duas Supertaças em basquetebol, e aos nove Campeonatos Nacionais, sete Taças de Portugal e quatro Supertaças em andebol, já conquistadas, mas por ter escolhido resgatar do infortúnio, os que, como ele, se viram condicionados na mobilidade, por um qualquer acidente.

Só por essa dedicação, o Manuel já era um campeão.