Opinião
Menos lixo, por favor!
Esse “aproveitar tudo” a que assisti, foi responsável pela resistência que ainda hoje sinto quando decido mandar para o lixo algum destes objetos materiais
Isto de eu ter quase sete décadas de vida às vezes faz-me ter saudades de alguns comportamentos que, quando eu era criança, observava nos adultos! Um deles tem a ver com os lixos e de como as pessoas tentavam dar, nas suas casas, uma utilidade ao que, sem ser orgânico, sobrava.
Recordo-me bem dos frascos vazios que, depois de esterilizados, todos os anos serviam para colocar os doces de ginja, de abóbora e de geleia e das caixas de lata que, ao longo de anos, semana após semana, recebiam novas fornadas de deliciosas bolachinhas de manteiga e biscoitos, fossem eles os “das três perninhas”, as “caras feias” ou os de “soda”.
Frascos e latas vindos de Espanha porque na minha cidade era de lá que nos chegavam, em frascos, os espargos em conserva e as latas com o tão apreciado, por mim e pelo meu irmão, Cola Cao.
Aliás, estou até convencida de que a minha mãe só aceitava que por vezes trocássemos o Ovomaltine pelo Cola Cao (este, segundo os meus pais, praticamente, só açúcar) por causa das múltiplas utilidades que depois podia dar às latas em que o tal “falso pó de chocolate” chegava à nossa casa!
Penso que essa observação ligada à reutilização não só dos frascos e das caixas de lata, mas também de sobras de lãs e de tecidos, esse “aproveitar tudo” a que assisti, foi responsável pela resistência que ainda hoje sinto quando decido mandar para o lixo algum destes objetos materiais.
Nestas alturas, contrariada por não ser capaz de ter uma atitude radical e de, por exemplo, quando os copos se partem em vez de correr a ir comprá-los não pôr a minha gente a beber pelos pequenos frascos vazios dos picles que, entretanto, vou deitando fora, apoio-me no primeiríssimo “r” da política dos 3r´s e juro a mim mesma que tudo irei fazer para produzir menos lixo.
Ora, foi satisfeita por sentir que ando a cumprir essa minha decisão que, na semana passada, só precisei de me libertar (claro que com a ajuda das minhas galinhas e da compostagem) de um pequeno saco de lixo orgânico.
Porém, assim que abri a tampa do respetivo contentor fiquei desanimada. Lá dentro havia um aglomerado de revistas, de embalagens de plástico e um saco a abarrotar de frascos de vidro.
Como se isto não bastasse encontro ao chegar a casa o lixo tóxico que num ecrã estava a ser vertido, na minha sala, pelas intervenções feitas na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Rapidamente desliguei o aparelho e só podia fazer tal coisa.
A bem do Planeta e da Democracia em Portugal, acreditem ou não, eu, com quase sete décadas de vida, dei comigo a gritar: menos lixo, por favor!