Opinião
Menos seca, menos inundações
O território e a cidade devem funcionar como uma “esponja” que absorve a água e não como uma “banheira” onde a água escorre rapidamente para o fundo e se perde pelo ralo
A presença e a disponibilidade de água são necessárias para a qualidade de vida e prosperidade de uma região. Leiria não tem grandes lagos nem rios caudalosos mas tem, felizmente, uma boa quantidade de chuva anual. A Serra d´Aire, que limita a região de Leiria a Sul e a Oeste, constitui uma barreira de condensação aos ventos carregados de humidade que propicia a ocorrência de chuva.
Em média chove mais em Leiria (795 milímetros por ano) do que na verdejante Londres (615 milímetros por ano). Mas com uma grande diferença: enquanto em Londres a chuva cai suave e constantemente ao longo de todo o ano – ali os jardins e parques nem precisam de sistemas de rega – em Leiria a maior parte da chuva cai durante os meses de Inverno e o Verão é seco.
Para se conseguir reduzir o risco de seca e de inundações num clima como o de Leiria a água da chuva deve ser retida e infiltrada no solo do território o mais possível, em vez de escorrer, ou ser drenada, rapidamente para os vales.
O território e a cidade devem funcionar como uma “esponja” que absorve a água e não como uma “banheira” onde a água escorre rapidamente para o fundo e se perde pelo ralo. Quanto mais água da chuva escorrer, ou for drenada, a partir das áreas onde cai, mais se irá acumular nas cotas mais baixas provocando inundações.
Por outro lado, menos água ficará armazenada no solo para enfrentar os meses secos de Verão. Se os depósitos naturais de água subterrâneos – os aquíferos – não forem recarregados pela infiltração de água no solo as nascentes e as captações de água secam.
Para a água da chuva se infiltrar nos solos estes têm que estar cobertos com vegetação como por exemplo com as culturas agrícolas, prados ou florestas de carvalhos com o seu sub-bosque de arbustos.
Os eucaliptais reduzem a matéria orgânica presente nos solos tornando-os duros e mais impermeáveis e por isso o seu cultivo em grandes áreas promove a seca no território.
Nas zonas urbanizadas os pavimentos impermeáveis e os telhados devem encaminhar as águas para espaços verdes próximos - sebes, canteiros, jardins, parques ou pequenos lagos preparados para receber e infiltrar a água.
As alterações climáticas não podem ser usadas como desculpa para descurar o ciclo da água no território, pelo contrário, requerem um maior empenho em tornar o território resiliente às contingências do clima.
A água da chuva que cai em Leiria depende da Natureza mas o bom aproveitamento dessa água está nas mãos dos leirienses.