Opinião
Mixed by Erry
Dos EUA, essa selva, chegam-nos notícias de artistas agredidos em pleno palco, à chapada ou com um telemóvel arremessado porque o fã “achou que criaria” um momento “Kodak”
É o nome de um filme italiano na Netflix que narra a ascensão e queda de um DJ de Nápoles, que, “por amor à música”, se tornou o improvável dono de um império discográfico, totalmente baseado na pirataria de cassetes.
A película é testemunho de um tempo (finais de 70, anos 80, e início dos anos 90) onde a música era central na vida das pessoas, a forma de entretenimento número #1, centro de todas as nossas atenções, e não mero “acessório” dos nossos “momentos”, numa era marcada pelo facto indelével de sermos nós, e mais nada ou ninguém, o centro das nossas atenções.
No fim do filme, “Erry” é preso e obrigado a devolver os milhões ganhos. Durante todo o filme é evidente uma “romantização” da personagem, elevado ao heroísmo de um Prometeu, que rouba o fogo, perdão, a música a quem a fez e editou, e vende, a preços económicos, ao público.
Erry devolve a todos menos aos músicos de quem roubou. Esses são a banda-sonora do seu enriquecimento ilícito, dos seus Lamborghinis, das suas villas, dos seus milhões no banco. Nestas coisas, nunca há simpatia pelos músicos roubados. Nunca.
Foi o mesmo com o caso dos Metallica versus Napster, do “Robin dos Bosques” do MegaUpload, que andava de jato privado à conta dos downloads ilegais, numa novela que continua na exploração evidente de criadores e criativos, por multinacionais, plataformas digitais e, em última instância, pelo próprio público.
Este último paga agora a fatura pesada dos anos “de borla”, com a inflação dos preços dos bilhetes e merchandise para compensarem o prejuízo que todos tivemos quando as vendas desapareceram.
Dos EUA, essa selva, chegam-nos notícias de artistas agredidos em pleno palco, à chapada ou com um telemóvel arremessado porque o fã “achou que criaria” um momento “Kodak”. Temo que para além do prejuízo, os artistas entrem agora na fase jogral da sua carreira, e tal como na Idade Média, sejamos vilipendiados e cuspidos, roubados do carinho e do respeito que, outrora, existiu por nós.