Opinião
Muitas vezes trabalhamos em cima de equívocos
Soube-me bem ouvi-los dizer: que é essencial a valorização do ensino secundário como um fim em si mesmo e não apenas como porta de acesos ao ensino superior
Tenho uma planta muito engraçada! Disposta em latada, no verão, a sua folhagem dá-me uma sombra que me convida a sorrateiras espreguiçadelas quase como a obrigar-me a reparar nas suas bonitas flores que mais tarde se hão de transformar em brincalhonas vagens que no inverno, penduradas num emaranhado de caules escandalosamente nus, se metem, constantemente, comigo. Gosto tanto dela que resolvi apresentá-la à minha neta Emília.
Ora, estávamos nós a observá-la quando nos apercebemos de uma chuva de desvairados pontinhos escuros vindos da planta. Fomos obrigadas a olhar para cima e então descobrimos os causadores de tal coisa! Uns passarinhos com os seus bicos estavam a conseguir abrir a casca seca das vagens que, sem cerimónia, libertavam uma chusma de sementes.
Entretanto, chegada ao pé de nós a senhora que aqui em casa me ajuda nas limpezas, de imediato sugeriu o corte do arbusto tal a sujeira que observou no chão e redondezas. Claro que eu e a Emília não concordámos! E se os pássaros se estavam a alimentar, como fariam depois? Mas será que eles se estavam a alimentar? Propus à Emília irmos à procura de coisas sobre aquele pássaro: quem era ele?
Lembrei-me então de ir buscar um livrinho vindo de 1992, intitulado “O meu primeiro livro de aves” e pusemo-nos à procura. Acreditem ou não foi a Emília, uma criança de cinco anos, que recorrendo às imagens desse maravilhoso livrinho descobriu que Verdilhão era o nome daquela ave e sim, eles estavam a alimentar-se pois comem sementes! Dali fomos à Internet e ficámos a saber muito mais coisas sobre essa ave (não fôssemos confundi-la com o Lugre!) e felizmente, até chegámos a ouvir o seu canto semelhante a um assobio.
A minha neta foi-se embora, mas antes guardámos umas sementes. Combinámos que temos de perceber porque é que elas se agarram tão facilmente a tudo e andam a espalhar-se por todo o lado. Em seguida, talvez porque continuo apaixonada pela imensa capacidade de aprendizagem das crianças, fui-me pôr a assistir à “Sessão de apresentação das alterações à conclusão do ensino secundário e acesso ao ensino superior”.
Com o que ouvi ao ministro, João Costa, ao aluno do secundário Rodrigo Claro e ao aluno universitário João Caseiro fiquei esperançada: percebi que todos eles estão a trabalhar para que nas escolas mais alunos e professores possam sentir esse gostoso encantamento que é: ver alguém a gostar de aprender!
Soube-me bem ouvi-los dizer: que é essencial a valorização do ensino secundário como um fim em si mesmo e não apenas como porta de acesos ao ensino superior; que na candidatura para a frequência desse ensino se deverá atribuir um peso maior aos processos e resultados das aprendizagens feitas com recurso a metodologias ativas que, apesar de não serem avaliadas em exames, são imprescindíveis para que os alunos saiam da escola, no final do secundário, competentes para a Vida; que no secundário haja a preocupação de preparar a transição dos alunos para o ensino superior e que por isso se acabe com a exclusividade das aulas expositivas conducentes ao treino de uma postura passiva por parte dos alunos e que se tem revelado completamente desadequada ao que, no ensino superior, lhes é exigido!
Confesso que dei comigo a desejar que estes três se mantenham ao longo das suas vidas sempre ligados ao governo da Educação no meu País! É que, ando ansiosa para que não seja baseada na sujidade que a planta faz a decisão de a cortar e tal atitude não dependa do decisor ser licenciado ou diplomado com ensino obrigatório.