Editorial
Mulheres de armas
Que o próximo 25 de Abril sirva para reflectir sobre o estado da nossa democracia e para erguer novamente o cravo, não apenas como símbolo da liberdade, mas, fundamentalmente, como sinal de respeito e admiração por todas as mulheres
São apenas quatro os testemunhos, mas todos intensos e esclarecedores do papel da mulher na caminhada de luta para a conquista da liberdade em Portugal. Quando se fala na revolução dos cravos, são quase sempre os homens os protagonistas principais da mudança de regime num país até então marcado por uma sociedade conservadora e patriarcal, que relegava as mulheres para uma posição secundária, submissa, reduzida praticamente a cuidar dos filhos e da gestão da casa.
Como a história nos tem revelado, e como os exemplos de Alda, Júlia, Rosinda e Aida nos demonstram no trabalho de abertura deste jornal, embora pouco valorizadas à época, as mulheres também foram verdadeiras heroínas no combate à ditadura, não só apoiando os maridos e os companheiros, mas também através da participação activa em comissões de trabalhadoras, que iam de fábrica em fábrica, de secção em secção, apelando à união para forçar as entidades patronais a negociar melhores salários e melhores condições de trabalho.
Algumas, mesmo a “tremer das pernas” sempre que alguém perguntava por elas - pois conheciam bem as barbaridades cometidas pela polícia política - não hesitaram em acolher nas suas casas as figuras que faziam oposição na clandestinidade, em esconder e encaminhar para outras paragens mais seguras, os que eram procurados pela PIDE.
“Tiveram de trabalhar por dois, passaram miséria extrema, humilhações sem nome, viveram a angústia mais profunda. Foram verdadeiras sobreviventes. Mulheres corajosas, mães sacrificadas, filhas dedicadas e heroínas esquecidas”, resume, de forma brilhante, Júlia Guarda Ribeiro, no seu livro Mulheres da Marinha Grande - Histórias de Luta e de Coragem.
Na próxima terça-feira, os cravos voltam à rua em força, para celebrar o 49.º aniversário do 25 de Abril de 1974. Que este dia nos sirva para reflectir sobre o estado da nossa democracia e para erguer novamente a flor, não apenas como símbolo da liberdade, mas, fundamentalmente, como sinal de respeito e admiração por todas as mulheres.