Opinião
Música | 25 de Abril, sempre!
Deixem-me exagerar: mas ver A Garota Não junto ao Forte de Peniche nas celebrações dos 50 anos do 25 de abril é como ter visto o espetáculo The Wall dos Pink Floyd, em Berlim, em 1990
* Texto originalmente publicado na edição em papel do JORNAL DE LEIRIA de 2 de Maio
Por estes dias, Portugal viveu momentos emocionantes nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Atrevo-me a dizer que nunca se viu nada assim. Os relatos que me chegaram da Avenida da Liberdade, em Lisboa, foram impressionantes – disseram-me que nem na Geração à Rasca se viu tanta gente. Eu celebrei esta maravilhosa data em Leiria, na Festa do Povo, e em Peniche, junto ao forte, símbolo da resistência, num concerto de A Garota Não.
Em Leiria, no dia 24 de abril, subiram ao palco da Praça Paulo VI a Orquestra Filarmonia das Beiras, Vitorino, Janita Salomé e Filipe Raposo. A noite estava fria, mas o público não arredou pé para ouvir as populares canções de autores de intervenção, não faltando “Grândola Vila Morena”, cantada em uníssono num dos momentos mais emocionantes da noite. Um excelente início musical da Festa do Povo, que levou a Leiria música, claro, mas também teatro, artesanato, tasquinhas, exposições e muita animação de rua, colorindo o centro da cidade durante cinco dias inesquecíveis.
No dia 25 de abril, foi a vez do JP Simões cantar José Mário Branco num concerto muito bonito, que contou com a leiriense Surma em dois temas. Não sei se haverá em Portugal melhor cantor para interpretar José Mário Branco; não sei mesmo se em alguns temas não gosto mais do JP Simões do que o próprio José Mário Branco. Estou-me a esticar, sim, eu sei. Mas o JP Simões está-me no coração. Foi um concerto inesquecível e ainda se ouviu uma das melhores canções da música popular portuguesa: “Lembra-me um Sonho Lindo”, de Fausto Bordalo Dias. Seguiu-se David Fonseca e a melhor pop nacional tomou conta do palco. Assistiu-se a um excelente espetáculo, com um ótimo alinhamento. Os grandes sucessos de David Fonseca desfilaram uns atrás dos outros e não faltaram temas dos Silence 4, o que em Leiria faz todo o sentido “o tempo voltar atrás”.
No dia 27 de abril, vi finalmente ao vivo A Garota Não. E não podia ter sido em melhor lugar do que junto ao forte de Peniche, lugar emblemático, como se sabe. As canções ali ganharam ainda mais impacto e, cantar “Liberdade, Querida Liberdade” (Canção a Zé Mário Branco), naquele local foi de ir às lágrimas. Deixem-me exagerar: mas ver A Garota Não junto ao Forte de Peniche nas celebrações dos 50 anos do 25 de abril é como ter visto o espetáculo The Wall dos Pink Floyd, em Berlim, em 1990. Histórico. 25 de Abril, sempre!