Opinião
Música | A música que se queria moderna
Há uma espécie de negacionista, para quem o bar é mais importante do que o palco, a selfie (nos nossos dias) é mais importante do que a música
Foi a um 7 de agosto, mas de 1993, que, no estádio de futebol José Bento Pessoa, na Figueira da Foz, se fez a I Mostra de Música Moderna.
Vinte e oito anos volvidos, essa primeira (e única mostra) ainda está presente nos corações de quem assistiu.
O cartaz começava com os portugueses Braindead, de Almada – que não tocaram – seguiram-se os Tédio Boys, de Coimbra, e depois, de Inglaterra, uns ainda imaturos e novinhos Blur.
A encerrar a noite, e para constar nos anais da história de concertos internacionais, Siouxsie & The Banshees, banda ainda hoje seminal, ligada ao movimento gótico, mas que abraça estéticas e gerações.
Ainda se estava num período de relativa imaturidade no que diz respeito a concertos ao vivo.
Assim, reza a lenda que os ingleses demoraram o tempo que quiseram (um stage manager faz muita falta), com o resultado desastroso – por parte da organização – de suspender as atuações das bandas portuguesas.
Ainda assim, os grandes Tédio Boys fizeram finca-pé, e tocaram um bocadinho (mais ou menos, porque forçaram a entrada em palco) até lhes cortarem o som.
De facto, do lado de cá – como público, entenda-se – tenho a ideia de a abertura de portas ter demorado uma eternidade.
Quem ganhou com isso foram os cafés das redondezas, ocupados pelos jovens convivas, para quem, em 1993, o futuro adivinhava-se radioso e tudo era importante.
É por isso que – caros caretas desta vida - reduzir os concertos a meros momentos de entretenimento, pode ser absolutamente falso.
É que também podem significar ritos de passagem, que marcam para sempre (aqui estou eu a falar de um episódio volvidos 28 anos), e sim, no mês seguinte, na Voz do Operário, em Lisboa, atuariam os germânicos Einstürzende Neubauten, com a primeira parte - cumprida na íntegra e com brio – dos Lucretia Divina, de Viseu.
Foi um Verão de luxo, de formação, um sonho agora distante, mas reparem nestas pequenas coisas.
Entre conversas mais ou menos ébrio-filosóficas num café na Figueira da Foz enquanto se esperava pela abertura de portas, até, em Lisboa, me terem dado um flyer à saída do concerto dos Neubauten – que era um catálogo de venda postal de música menos imediata – ambos os episódios mudaram a minha vida.
É claro que há os que foram, e continuam a ir, e não retiram nada da experiência.
Daí não fazer uma afirmação cabal de que todos têm a mesma experiência. Não têm. Também há uma espécie de negacionista, para quem o bar é mais importante do que o palco, a selfie (nos nossos dias) é mais importante do que a música.
As pistas estão todas lá, mas ninguém entra lá burro e sai de lá esperto.
Aquilo que se processa com a informação recebida é que vai contar.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990