Opinião
Música | A sedução da contemporaneidade
Belíssimo trabalho de Henning Schmiedt, compositor, orquestrador e pianista alemão que participou até hoje em mais de 80 discos
De apelido difícil para mim de pronunciar, trago-vos hoje o belíssimo trabalho de Henning Schmiedt, compositor, orquestrador e pianista alemão que participou até hoje em mais de 80 discos, um número por si só deveras impressionante, é certo, mas que, se considerarmos os nomes a que se associou, ainda mais relevante se torna. Senão vejamos, contam-se entre eles, Mikis Theodorakis (compositor e político grego de fama mundial, que infelizmente nos deixou o ano passado), Maria Farantouri (também ela de nacionalidade grega, nascida em Atenas, uma cantora e ativista política), Zülfü Livaneli (artista multifacetado turco, também escritor e realizador) ou Jocelyn B. Smith (famosa cantora norte-americana de jazz).
Desde incontáveis participações em pequenos ensembles até formações de orquestras sinfónicas, este extraordinário músico de 57 anos nascido em Bad Schlema, apresenta-se regularmente em concertos um pouco por todo o mundo, navegando nas fronteiras entre o jazz, a música do mundo e a música contemporânea.
Em Schöneweide – mais um nome claramente tortuoso de pronunciar mas não de se escutar, Henning apresenta-nos um série de composições para piano solo, nutridas por uma electrónica delicada mas absolutamente preponderante para aquele sedutor aconchego a que nos habituámos e que em muito mistifica este seu trabalho delicioso. O som do piano é bem espaçoso e enigmático, parecendo-me ter a capacidade de seduzir o ouvinte ao primeiro acorde logo ali em “mondlied”.
Schöneweide dá nome ao disco, sendo também o nome de um distrito no sudeste de Berlim, local onde se situa o estúdio do compositor, espaço que tem sido para ele um verdadeiro refúgio e responsável por embalar muito do seu portento criativo.
Percorrendo os vários cantos deste disco, denota-se uma sobriedade imensa na abordagem à música contemporânea, apresentando-a como – usualmente – um desafio aos ouvidos mais entorpecidos mas também melodioso o suficiente para nos cativar numa primeira escuta.
A edição é da FLAU records, uma companhia discográfica de Tóquio, erguida no final de 2006 pelo jovem Yasuhiko Fukuzono (também conhecido apenas por aus), artista do universo da música eletrónica que em pouco tempo se tornou um nome incontornável no Japão, tendo já no seu portfólio mais de 100 edições. FLAU caracteriza-se por seguir uma estética de trajetória de contemplação e induzir alguma nostalgia, sendo que cada um dos seus artistas é bastante singular, não obstante encontrarem nesta editora um tecto em comum que os alberga e os une numa dada estética.
Há nesta escuta uma sensação de conforto e de pertença, talvez pela exímia performance e controlo deste músico brilhante que nos permite ceder e seguir tranquilos mesmo nos momentos de maior agitação, pois sabemos que estamos a ser conduzidos por um experiente navegador.