Opinião
Música | Alguns discos agradáveis de 2022
2 de abril da Garota Não. Desconfio que se fizesse uma dessas clássicas listas dos “melhores do ano” e se tivesse eu ouvido tudo o que foi editado em Portugal, talvez este disco entrasse diretamente para o primeiro lugar
Chega-se a esta altura dos balanços e ninguém para a Beyoncé: cada vez que lança um disco, lá vai ela para o topo das listas de melhores do ano. Imagino que a equipa de produção, e tudo à volta dela, não brinque em serviço, como tal, raramente falha os objetivos: vender discos como pãezinhos quentes, colocar a artista nas principais capas de revista e reunir boas críticas.
A música pop é assim. E não é de agora. Eu já fui mais nessa cantiga do “consenso”, agora oiço menos as novidades – até porque é difícil acompanhar – e aposto na descoberta de álbuns, artistas e géneros que me têm passado ao lado por diversas razões. Portanto, quando chega esta altura do ano de elaborar uma lista pessoal de melhores do ano, não consigo bem dizer que este ou aquele foram os melhores do ano, posso dizer, isso sim, que este ou aquele foram agradáveis de ouvir e, por acaso, são registos de 2022. E Renaissance, o mais recente disco de Beyoncé até foi um dos que gostei de ouvir, apesar de não ter perdido muito tempo com ele. Lá está: foi agradável ouvir, e num lounge em Vilamoura cai muito bem depois da praia a acompanhar um refresco a 10 euros, tal é a inflação - a do copo e a do disco.
Outro álbum agradável é o Big Time da artista norte-americana Angel Olsen, que com o seu country melancólico nos leva por um conjunto de canções tristes, mas bem bonitas. Parece que os últimos tempos da cantora não têm sido nada meigos e este disco reflete essa sombra; uma nuvem negra que também paira sobre muitos de nós. Mas depois vem o sol e fica tudo bem. Ou não.
Os Spoon também regressaram em 2022 com o belo disco Lucifer on the Sofa. Guitarras e bateria em altas, com a voz inconfundível de Britt Daniel a dar brilho à coisa. Rock das américas bem esgalhado, perfeito para quem ainda gosta de praticar air guitar (eu, por exemplo, quando ando pela cozinha à volta dos tachos). T
alvez um pouco mais do que agradável, surge nesta minha prosa o disco, bem português, 2 de abril da Garota Não. Desconfio que se fizesse uma dessas clássicas listas dos “melhores do ano” e se tivesse eu ouvido tudo o que foi editado em Portugal, talvez este disco entrasse diretamente para o primeiro lugar. Não sei se é uma obra-prima, o tempo o dirá, mas que é um disco do caneco, lá isso é. E o mais ouvido por mim em 2022 – diz-me aqui o Spotify.
Eu até gostava de listar por aqui, pelo menos, 10 discos novíssimos em folha, repletos de sonoridades extremamente modernas, mas acho que passei tempo demais a ouvir os vanguardistas The Velvet Underground e o romântico Gustav Mahler. E a Garota Não. Desculpem. Bom Ano!