Opinião
Música | As voltas ao sol
Ver pais, mães e tios, alguns com rodagem de atuações ao vivo, do lado de cá do público, a tirar fotografias aos seus que tocavam em palco foi um rito de passagem. Esse dia chegou e foi agora. Seja toda a gente bem-vinda a esta nova fase
Dave Grohl dos Foo Fighters (e Nirvana) tem uma banda informal com outros pais da escola das filhas cujo nome é The Greatful Dad. A brincar com o nome da banda psicadélica Greateful Dead, Grohl ajuda na recolha de fundos tocando música adotando o nome de autênticos pais babados. E as filhas também já vão dando uns toques.
A história da música é feita de pessoas, executantes e os seus contextos. Tendo estudado a cena musical da região de Leiria dos anos 90, consigo olhar para a fita do tempo e encontrar razões lógicas para identificar fatores que levaram ao fim de determinadas bandas e longevidade de outras.
As razões confundem-se com as nossas próprias vidas. Tratando-se de uma geração jovem, é dos livros: com as idas para universidade ou entrada no mundo do trabalho, muitas bandas redefinir-se-iam, embora as juras de fidelidade fossem eternas.
Houve quem se fartasse da música (e da vida em geral), houve quem tenha mudado de afetos, de amigos, de prioridades, de cidade ou de país. Já vimos isso acontecer. Alguns elementos tocavam em mais do que uma banda e isso também foi clarificado.
Serve isto para dizer que no festival A Porta, em Leiria, deu para sentir o pulso de novos projetos e com a circunstância de ver em ação alguns filhos de músicos, ou protagonistas de outra forma, que fizeram parte da vaga da cena musical leiriense dos anos 90, e que agora têm bandas, são produtores ou voluntários.
Ver pais, mães e tios, alguns com rodagem de atuações ao vivo, do lado de cá do público, a tirar fotografias aos seus que tocavam em palco foi um rito de passagem. Esse dia chegou e foi agora. Seja toda a gente bem-vinda a esta nova fase.
Tal como os seus antecessores, há margem de progressão e também de redefinição. Onde nem sequer faltaram os agradecimentos à comunidade estudantil em vésperas de exames, mas que se deslocou para apoiar, é revelador do que está a acontecer.
São jovens – já não falo só dos que tocaram em Leiria – têm bandas, mas também têm uma vida inteira pela frente e avançam, a passos largos, para um dos momentos mais excitantes das suas existências que muito provavelmente passa por estarem menos tempo onde vivem e com quem se dão. O mundo volátil da música também é, por isso mesmo, apetecível. Aguardemos com serenidade.
Quanto aos greateful dads, é claro que uma pessoa não tem 18 anos para sempre, as voltas ao sol confirmam-se e isso de ser forever young, sendo um estado de espírito, também é uma treta. Não há escapatória.