Opinião
Música | David Byrne
Indiscutivelmente, um dos artistas mais completos, interessantes e estimulantes
Nasceu na Escócia, em Dumbarton, filho mais velho de um agregado familiar com um pai católico e uma mãe presbiteriana. Nos anos cinquenta casais que ousavam misturar credos não eram muito bem aceites e aos dois anos de idade já os três tinham cruzado o Atlântico em busca de paz, aceitação e novas oportunidades pelo Canadá. Meia dúzia de anos depois rumam a Maryland e é pelos Estados Unidos que o escocês David Byrne vai dar nas vistas, sem nunca perder a vontade, pessoal e artisticamente, de cruzar oceanos e de promover o encontro entre as diferenças.
Fixado no gira-discos, começou a aprender vários instrumentos, tentou cantar e muitos lhe diziam que desafinava e começou as primeiras bandas no ensino secundário mas a vontade era muita e o caso começou a ficar realmente sério quando, aos 22 anos, se mudou para Nova Iorque e foi, em lume brando, cozinhando os Talking Heads, com Chris Frantz e Tina Weymouth.
A importância e a influência dos Talking Heads e da sua posterior carreira a solo, por si só, já conferiram a David Byrne um lugar de destaque no Olimpo da música mas a figura que decidiu começar a escrever canções porque era envergonhado e que passou anos de quase miséria na big apple, porque sabia que não fazia sentido criar os Talking Heads noutra parte do mundo, deixou (e continua a deixar) um legado muito maior.
Apaixonado pela música do mundo cria a editora Luaka Bop onde vai descobrir e ressuscitar nomes como Tom Zé, William Onyeabor, Pastor Champion ou Susana Baca e promove encontros inesperados como o de Floating Points com Pharoah Sanders, sempre com a velha máxima de continuar a ser, acima de tudo, um fã de música e de novas sonoridades que quer descobrir música que o estimule e trabalhar a sua disseminação.
Foi também com esse propósito que, num mundo cheio de notícias que nos assustam criou o Reasons to be Cheerful, um site que todos os dias nos dá a conhecer bons exemplos de acções comunitárias e/ou transformadoras que nos mostram belíssimos exemplos das melhores e mais inventivas facetas da humanidade nos vários pontos do globo.
Desde a forma como lê o mundo através da música e se reinventa constantemente, como inova nos seus espectáculos ao vivo e nos seus projectos, como procura colaborações mais ou menos inusitadas que vão de Caetano Veloso a St. Vincent ou de Brian Eno a Fatboy Slim, Byrne consegue ainda redigir a escrito, nos vários livros publicados, uma visão peculiar e perspicaz do mundo, da arte e das relações humanas.
David Byrne é, indiscutivelmente, um dos artistas mais completos, interessantes e estimulantes desta última meia década.