Opinião

Música | Do mar vem sempre inspiração

20 fev 2021 20:00

Trago-vos hoje a generosa cumplicidade da euforia musical de Peter Honsalek, compositor, pianista e violinista natural de Koblenz, cidade algures entre Colónia e Frankfurt, na Alemanha

Formado pela University of Music and Performing Arts Munich, hoje dá-se a conhecer, nas suas plataformas digitais, pelo projecto musical com o nome de Himmelsrandt. Fiquei a conhecê-lo através do seu mais recente trabalho, intitulado Meerland.

Honsalek está por detrás de todos os instrumentos, quer na composição, arranjos e na sua interpretação, pese embora nos pareça estarmos a escutar um ensemble de músicos extraordinários, brilhante e exaustivamente bem ensaiados entre si.

Esta coerência e habilidade na autonomização de um trabalho tão delicado não é assim tão comum e simples de nos convencer. O violino salta à vista nesta bela pintura sonora, de imensas pinceladas, balanceando suavemente por entre os apontamentos do piano, dos laivos de electrónica e sintetizadores.

Muito madura esta música, com reminiscências de Bach (inclui também peças para violino a solo), havendo nela toda uma orgânica e fluidez que nos cativa desde o primeiro momento, só me deixando adivinhar que os seus trabalhos antecessores - e são já três trabalhos de longa-duração, com Schneeland (2016) enquanto sua estreia – serão igualmente maravilhosos.

Temas com esta luz e fulgor só poderiam ser acompanhados de um “invólucro” que lhes fizesse jus, e neste caso falamos de ilustrações bem sugestivas deste mecanismo audaz de introspecção, trazidas pelo pintor - também ele alemão - chamado Johann Vincenz Cissarz, com a natural adaptação gráfica para os layouts do CD e vinil, por Melanie Kretzer.

Como tantas vezes serve de inspiração a mentes criativas – lembro-me logo de Ernest Hemingway e a sua obra incontornável O velho e o mar -, a temática do Homem e do mar é o ponto de partida em Meerland, de Honsalek; sugerindo que nos coloquemos na posição daquela personagem que caminha em busca de algo, onde o mar que o rodeia representa o vazio do desconhecido, numa ânsia pelo conhecimento, dos outros e de nós próprios.

O álbum foi editado o ano passado pela alemã Unperceived Records (editora independente de Berlim) e a sua versão CD surge numa embalagem repleta de detalhes belíssimos como um conjunto de pinturas em formato de fotografia, que complementam a já mencionada foto de capa, embalagem esta selada por uma simples corda de sisal.

Objectos destes, quando associados a música intemporal (caberá ao tempo decidir), tendem a tornar-se autênticas relíquias para os melómanos do género.

A mistura esteve a cargo do próprio compositor e de Hannes Kretzer (jovem produtor e ás da electrónica), a masterização pelas mãos de Nihad Tule.