Opinião
Música | E no final ganham os Pulp
Já não vou a grandes festivais. Quando muito vou passar um fim de semana ao local onde se realiza determinado festival e por acaso vejo um ou outro concerto – o que pode não parecer, mas é diferente
Ver concertos ao vivo dá sempre uma animada conversa (e controvérsia) entre amigos. Raramente as opiniões coincidem em relação ao mesmo concerto. Mas há exceções. Já lá vamos.
São múltiplas as variáveis que podem condicionar um concerto: a sala, o formato, o lugar, a acústica, a companhia, a neura, o tipo muito alto à nossa frente, os telemóveis, o paleio, a performance, os músicos em dia não, a cerveja a mais, a cerveja a menos, a música datada, e tantas outras coisas. E nos últimos tempos nem sempre as opiniões foram unânimes nos concertos que vi.
Em abril vi a Kristin Hersh no RCA Club. A cantora, guitarrista e compositora americana das Throwing Muses passou por Lisboa com a sua guitarra para atuar numa sala mais habituada a receber heavy e trash metal de ponta. Talvez um Festival Para Gente Sentada fosse o mais indicado para esta artista; ali, fiquei sempre com a sensação de que estava a faltar qualquer coisa; se calhar, seriam mesmo as Throwing Muses.
Em maio foi a vez de ver Ryoji Ikeda na Culturgest e aqui a coisa muda de figura. O artista japonês apresentou o espetáculo ultratronics com uma linguagem visual e sonora muito particulares. A eletrónica contemporânea e as artes visuais deste esteta funcionam em pleno, principalmente ao vivo, com uma poderosa projeção sonora e imagens que nos levam para dentro do som. Confusos? Sim, eu também saí de lá um pouco confuso. Mas gostei da experiência. A arte por vezes incomoda.
Já não vou a grandes festivais. Quando muito vou passar um fim de semana ao local onde se realiza determinado festival e por acaso vejo um ou outro concerto – o que pode não parecer, mas é diferente. E assim aconteceu com o Primavera Sound. Fui passar o fim de semana ao Porto e aproveitei para estar com os amigos, ver os Pulp, os The National, a exposição da Yayoi Kusama em Serralves, comer tripas, bifanas da Conga, croissants prensados e relaxar no SPA do hotel. Tudo bom. Mas perfeito, perfeito, foi o concerto dos Pulp. E aqui parece que toda a gente gostou. Nunca um alinhamento bateu tão forte como aquele que Jarvis Cocker e companhia apresentou no Primavera. Canções pop imaculadas, êxitos uns atrás dos outros, com o apoteótico “Common People” a rematar o espetáculo.
Ali não houve lugar a nostalgias, apenas a grandes canções que podiam ser os sucessos do verão passado. Um dos melhores concertos que vi até hoje. A sério. Os The National também estiveram em grande e adaptaram-se bem ao festival. Lembram-se dos National banda de culto? Pois, já era.