Opinião

Música | Mais empatia, melhor humanidade

25 jul 2025 14:41

Basta olhar para A Garota Não ou para o grupo Cara de Espelho, só para dar dois exemplos recentes da música portuguesa, que se posicionam firmemente contra os abusos de poder

Isto anda tudo tão virado do avesso, que já não sei bem o que pensar. Falo do mundo, falo das pessoas. Mas também não é de agora. Ou é? Os humanos sempre foram um bocado desvairados da telha e boa parte deles estão sempre prontinhos a disparar qualquer coisa contra o outro: é o que estiver mais à mão. Cenas mal resolvidas, diz a psicologia. E a música pode fazer alguma coisa para mudar isto? Pode, basta olhar para A Garota Não ou para o grupo Cara de Espelho, só para dar dois exemplos recentes da música portuguesa, que se posicionam firmemente contra os abusos de poder e denunciam através das suas canções situações de injustiça na sociedade atual. Ao longo dos tempos, a música sempre teve esta capacidade de resistência e os seus intérpretes, muitos deles seguidos por milhões de pessoas, sabem muito bem que a sua voz pode mudar muita coisa.

Há 40 anos, as imagens na televisão de crianças subnutridas rodeadas de insetos, na Etiópia, chocavam o mundo e o músico Bob Geldof, da banda Boomtown Rats, mexeu-se bem e organizou o famoso Live Aid, com o qual arrecadou 125 milhões de dólares para combater a fome naquele país africano, contando para isso com alguns dos músicos mais famosos da altura, tais como os Queen, U2, David Bowie, Elton John, Paul McCartney, Madonna, entre muitos outros. Foi um acontecimento extraordinário com a música a unir artistas e público por uma causa humanitária, promovendo assim a solidariedade global.

Seguiram-se muitos outros eventos solidários nestes últimos anos, claro, mas com a dimensão daquele a unir tanta gente pelo mesmo objetivo, não estou a ver outro semelhante. Hoje, e como diz a banda Bob Vylan “há um genocídio a ser transmitido via streaming” e não conseguimos ver consenso na reprovação do que está a acontecer na Faixa de Gaza, quer por convicção ideológica, quer por indiferença, talvez esta última ainda seja pior e reflita os tempos de alienação em que vivemos. Até podemos ter ideias políticas diferentes, credos distantes, mas a empatia e o humanismo deviam ser universais e intocáveis.

Por pouco que possa parecer, tudo devemos fazer o que está ao nosso alcance para passar uma mensagem que inclua “Mais Empatia, Melhor Humanidade” – repito assim o lema deste ano do Extramuralhas para rematar este texto, desejando a toda a equipa deste festival a minha solidariedade e parabéns por se manterem do lado certo da barricada.