Opinião
Música | Na Natureza, um piano
O pianista e compositor Luke Gajdus apresenta-se usualmente em concertos que são projetados para induzir um certo estado de relaxamento
Trago-vos hoje um alinhamento musical que foi escrito e gravado num delicado equilíbrio entre dois ambientes bem distintos, por um lado, na agitação cosmopolita da cidade de Londres, por outro, bebendo da serenidade e leveza das cadeias montanhosas e florestas de Queenstown, na Nova Zelândia.
E isto, não porque o autor em questão quisesse voluntariamente (!) tornar consideravelmente dispendiosa a produção do álbum, antes porque este, o jovem Luke Gajdus, divide já a sua vida entre estes dois países em virtude do seu quotidiano.
Com um mestrado em musicoterapia - prática com música num contexto clínico de tratamento, reabilitação ou prevenção de saúde e bem-estar -, o pianista e compositor apresenta-se usualmente em concertos que são projetados para induzir um certo estado de relaxamento, entre eles, eventos vários como concertos noturnos (enquanto a audiência procura dormir) e ao ar livre, bem como atuações surpresa envoltos em espaços naturais.
In Breath, disco de estreia de Luke, não é – de modo algum, diria – um trabalho que nos surpreenda por uma evidente originalidade ou por um quebrar de géneros, é sim um conjunto de melodias bonitas e cativantes, simples sim, mas capazes de promover paz interior e uma calma sincera.
Foi mesmo a natureza, nas suas várias dimensões, que serviu de fonte de inspiração para esta criação, diz-nos Luke: “Adoro encontrar correlações entre a natureza e o homem, e a perceção de que somos um e o mesmo. Os movimentos da água nos rios, oceanos, das nuvens, das árvores a balançar, das mudanças de estação, da transição entre a noite e o dia, tudo me falava como que numa analogia às mudanças e movimentos da própria mente humana, servindo assim de inspiração para muitas destas peças. É na natureza que me sinto mais conectado e equilibrado e esforcei-me para refletir isso na minha música”.
Recorrendo a três pianos diferentes, preparados com algodão e feltro de lã entre os martelos e as cordas, na já bem comum técnica de suavizar o martelar das cordas, criando-se um ambiente mais próximo, delicado e intimista, este jovem com uma veia polaca (o seu apelido denuncia isso mesmo), editou In Breath no início deste ano, em Fevereiro, pelo que pode já ser escutado nas plataformas de streaming.
O álbum foi misturado e masterizado por Martin Heyne no seu estúdio Lichte Studio, em Berlim, com design gráfico de Dadu Shin. A sua música pode ser escutada regularmente nas playlists da icónica rádio KEXP (Where the Music Matters) e foi já alvo de crítica na, também ela já icónica, magazine online independente Headphone Commute.
Razões por si só suficientes, diria, para lhe darmos uma oportunidade de escuta e nos deixarmos (re)conectar com a natureza, através da simplicidade de um instrumento que nos é tão familiar, o piano.