Opinião
Música | Nirvana
Tempos áureos de uma adolescência muito rock n´ roll, vivida intensamente numa Leiria marcada pelo eixo Liceu Rodrigues Lobo – Centro Comercial Dom Dinis – Terreiro
A reedição de In Utero, o último álbum dos Nirvana, tem sido notícia por estes dias. Não é para menos: um dos discos mais emblemáticos da história da música faz 30 anos e a data é celebrada com uma edição especial, que inclui 53 gravações nunca antes editadas. Claro que Nevermind, o segundo registo da banda, foi o álbum-estrondo, vendendo milhões de discos, mas In Utero surge como o trabalho pós-fama, onde Kurt Cobain expõe uma fragilidade inquietante: “I Hate Myself and I Want to Die” estava mesmo para ser o título do disco.
No que toca a Nirvana, sou profundamente nostálgico. O fenómeno bateu com força ali entre 1991 e 1994 – tempos áureos de uma adolescência muito rock n´ roll, vivida intensamente numa Leiria marcada pelo eixo Liceu Rodrigues Lobo – Centro Comercial Dom Dinis – Terreiro.
O disco Nevermind rapidamente se reproduziu por muitas cassetes, andando connosco para todo o lado (inesquecíveis as viagens noturnas para o bar Solar da Paz, na Foz do Arelho). Ouvíamos muito Nirvana. Agora plural, para incluir o meu grupo de amigos. Curiosamente, não éramos muito alinhados com o movimento grunge, Nirvana era uma cena à parte. Tínhamos o ouvido treinado para outras bandas, como Pixies, Sonic Youth, The Velvet Underground, David Bowie, The Fall, Joy Division e por aí afora. Pearl Jam, ou Soundgarden, por exemplo, passaram-nos um pouco ao lado.
Com os Nirvana, a minha geração teve ali o seu momento “fúria de viver” e Kurt Cobain vivia no fio da navalha, ele e muitos de nós. Todos nós sabíamos que a coisa podia correr mal. Lembro-me de ter conversas onde temíamos a sua morte, ora causada pelo consumo excessivo de drogas, ora pelo suicídio. Quando marcaram o concerto no dia 6 de fevereiro de 1994, em Cascais, corremos a comprar os bilhetes, com a convicção de que poderia ser a única oportunidade de ver o Kurt Cobain ao vivo. Nesse dia, viveram-se momentos emocionantes absolutamente incríveis e quando muitos esperavam um Kurt Cobain desgovernado, tivemos em palco um Kurt Cobain muito envolvido com a sua música, a nossa música.
Passados três meses, a notícia: “No dia 8 de abril de 1994, Kurt Cobain, líder e vocalista da banda Nirvana, foi encontrado morto em sua casa, localizada na Lake Washington Boulevard, 171, em Seattle, Washington, Estados Unidos. Foi determinado que o músico havia morrido três dias antes, em 5 de abril.”
Estava escrito. Está escrito na Wikipédia. Nada a fazer. Resta-nos ouvir Nirvana. Para sempre.