Opinião
Música | Podia ter esperado por Agosto
Não considerem, por favor, estas palavras como uma crítica, é mais uma irritação muito pessoal. Prefiro mil vezes ver um filme simplesmente mau (ai, e vi tantos filmes maus tão bons), do que um filme mau a querer parecer um filme bom
… e assim ia de férias, a minha filha ia esquecer-se, certamente, de querer ver este novo filme de César Mourão, um artista de variedades muito popular em Portugal que acabou de realizar o seu primeiro filme. Teria sido preferível ver este áudio visual mais à frente numa matinée televisiva natalícia, onde este género de produto, entre uma rabanada e um cálice de moscatel, tolera-se mais facilmente. Agora nesta altura, com um tipo a precisar de férias, não é nada bom. Nem a minha filha, que tem 10 anos, achou grande piada à coisa – valeu-nos as cerejas do Fundão, com gelo e tudo, que levámos escondidas no saco para ir petiscando durante a sessão. Sem pipocas, o prejuízo não foi tão elevado. Vá lá.
Podia ter esperado por agosto poderia considerar-se como “Novo Cinema de Autor” e uma redundante “Nova Nouvelle Vague”. Mas como não estamos a falar de Godard, mas sim de César Mourão, aqui o cinema de autor traduz-se em vontade, às vezes à vontadinha, e algum narcisismo à mistura: “aquela aldeia lá no Minho dava um cenário espetacular para eu contracenar com a Júlia Palha” e/ou “no quarto da minha personagem vou ter de pôr um daqueles globos com luz ao lado do cachecol da SIC”.
Nesta Nouvelle Vague cabem novas técnicas, como a utilização constante dos filtros “Los Angeles” e “Simple Cool” e o recurso a drones, claro. Não considerem, por favor, estas palavras como uma crítica, é mais uma irritação muito pessoal. Prefiro mil vezes ver um filme simplesmente mau (ai, e vi tantos filmes maus tão bons), do que um filme mau a querer parecer um filme bom.
No genérico final, reparei na quantidade de gente que trabalhou no filme e fiquei a pensar: “isto deve ser malta da publicidade. Estar ali a fazer isto ou um spot do Continente, é só mais um dia no escritório”. É que há ali muito trabalho. Disso não tenho dúvidas. Espero, sinceramente, que tenham o retorno financeiro merecido. Apesar de não ter gostado do filme, trabalho, é trabalho (apesar do conhaque a mais em muitas cenas).
E o filme tem música? Tem. Tem uma banda sonora com seis canções, que devem entrar no espírito de autor mencionado lá atrás: “tenho aqui uma playlist com seis canções que vão dar aquele boost ao filme. Uma delas até é francesa e vai funcionar muito bem com a personagem do Kevin Dias. E tenho de arranjar maneira de pôr a tocar a “Lambada” cantada pela Sílvia Pérez Cruz, que é uma coisa do outro mundo”. “E para a cena da festa, avançamos com a “Maria Joana” dos Calema com a Mariza, que o “Preço Certo” do Mafama é demasiado óbvio.”
E assim se faz um filme. Imagino eu.