Opinião
Música | Slow Moving Millie na Sétima Arte
Quanta vezes não acontece alguém descobrir em si mesmo um sem número de aptidões artísticas e, muitas vezes para seu próprio espanto, ter consciência de que se é brilhante em todas elas?
Estou convencido de que a inglesa Amelia Warner, de 38 anos de idade, saberá bem do que escrevo.
Além de ser uma actriz extraordinária (colaborou com realizadores como Philip Kaufman e Stephen Woolley) e altamente versátil, Amelia é uma compositora e performer excepcional e, há pouco tempo atrás, revelou-se ser também uma hábil compositora de bandas-sonoras, vencedora aliás do prémio de compositora revelação na edição do ano passado do prestigiante International Film Music Critics Award (IFMCA).
Note-se, não é assim tão comum esta transição tão bem sucedida do mundo da representação para o da composição musical.
Partilho hoje convosco a lindíssima banda sonora de um filme escrito por Emma Jensen: Mary Shelley (filme de 2017), à data apenas a terceira de Amelia, e que obra musical fascinante é esta… o filme fala-nos do amor que a escritora nutre por Percy Bysshe Shelley, numa relação que a inspirou a escrever Frankenstein.
O universo musical de Amelia não desponta da incursão nas bandas sonoras, já havia chegado e de que maneira aos ouvidos da Universal com o seu projecto Slow Moving Millie, atingindo o lugar cimeiro da categoria da música clássica no iTunes com o EP Arms, produzido por Fyfe Dangerfield.
A brotar da entusiasmante viagem musical que a compositora traçou, está um retrato bem fidedigno de uma personagem cuja vida terá sido recheada das expectáveis rasteiras que a opulência e o dinheiro trarão, com laivos de tragédia e doença.
Amelia desvenda alguns dos segredos que poderão estar por detrás do sucesso que esta obra tem, como a fusão de sintetizadores com uma orquestra “tradicional” que inclui piano e harpa, ou a feliz descoberta de uma soprano e de um contra-tenor que cantam de uma forma especialmente expressiva, chegando até a gritar e a percorrer escalas de alto a baixo criando fortes sensações de desconforto e desorientação para cenas-chave do filme.
A crítica aparenta surpreender-se com a ausência de formação musical académica de Amelia, vangloriando fortemente a sua ascensão meteórica neste universo infelizmente ainda muito reservado ao sexo masculino.
Será certamente mais uma voz feminina, nos tempos vindouros, a furar os cânones impostos por períodos longos de premiações exclusivas a compositores homens.
Com edição da Universal/Decca Gold, este álbum intitulado Mary Shelley - Original Motion Picture Score, de 2018, tem orquestrações de Nathan Klein e Will Gardner, e está disponível para escuta em todas as plataformas digitais.
Deliciem-se!