Opinião

#Nãopodias

6 mai 2023 10:18

Nunca ninguém se auto-intitula ditador - é nas acções concretas que se distinguem as verdadeiras intenções

No passado dia 28 de Abril foi oficialmente apresentado o programa de Leiria para as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, o que marca o início de um ano de celebração da Liberdade - aquela que hoje temos como dado adquirido, mas durante tantos anos nos foi roubada por um regime ditatorial que em nada traz saudades.

É bom lembrar que a falta de liberdade - para falar, discordar, beijar, viajar, votar, reunir, estudar - não é aceitável nunca. Ninguém está disposto a abdicar da sua liberdade, e é preciso saber ler os sinais que nos indicam que ela é frágil e nos pode ser negada mais rápido do que imaginamos, sob falsos pretextos que nos parecem razoáveis à primeira vista.

A nível nacional, foi lançada uma campanha para lembrar isto mesmo, que creio que toda a gente devia ver e partilhar. De uma forma simples, lembra-nos que há 50 anos #nãopodias fazer uma série de coisas que hoje temos como direitos inalienáveis.

Direitos individuais e colectivos, políticos e sociais - todos importantes - todos passíveis de nos serem retirados se não soubermos a história de como foram roubados em tempos idos não assim tão longínquos.

A ditadura, quando se instalou, também encantou muitos com promessas de ordem, justiça, moral - tudo para a construção de uma “sociedade de pessoas de bem”.

Nunca ninguém se auto-intitula ditador - é nas acções concretas que se distinguem as verdadeiras intenções. Por isso, é bom lembrar: políticas de vigilância podem parecer justificáveis pela necessidade de segurança, mas, em ditadura, toda a gente tem algo a esconder; penas severas e tortura para crimes hediondos podem parecer justiça, para alguns, mas, em ditadura, tudo o que é desobediência é crime hediondo; censurar vozes dissonantes pode parecer conveniente para a paz (podre) social, mas, em ditadura, todas as vozes passam a ser inconvenientes.

Quando o mal já está instalado e o povo subjugado, já não são só as coisas razoáveis de proibir que estão proibidas - vai-se a “razoabilidade”, fica a arbitrariedade. Não esqueçamos isso, e celebremos sempre as conquistas de Abril!