Opinião
Natureza “limpinha”
Será que vamos algum dia reconciliar-nos verdadeiramente com a Natureza?
Quando o “bom tempo” começa a voltar às nossas vidas, inundam-nos vontades de viver mais ao ar livre, em contacto com a Natureza - uma coisa absolutamente maravilhosa e desejável. Há no entanto um fenómeno que surge com essa leva que me intriga e tira até do sério: as pessoas que gostam de “estar na Natureza”, mas que acabam por perverter tudo o que há de bom em estar na Natureza.
Falo da pessoa que gosta de desporto ao ar livre, mas que abusa do pisoteio da vegetação fora dos trilhos; que assenta arraiais na praia ou numa floresta com colunas de som no máximo, às vezes (oh exasperação!) no meio das dunas - património natural protegido - sem o mínimo respeito por quem só queria ouvir as ondas do mar ou as aves e rios ou, pior, pela vida selvagem que se vê obrigada a fugir a sete patas; falo do querer-se ir a banhos na Lagoa da Ervedeira, e achar que ela tem de ser “limpa” da sua vegetação para que as pessoas não se afoguem nas algas, sem ter a noção de que aquele espaço é o pequeno paraíso que é por causa da sua vegetação aquática!
Talvez nem todos os espaços com água sejam para nos metermos lá dentro… E o que dizer desse velho hábito que nunca mais morre de cortar à navalha os prados biodiversos (não são daninhas!!!) que tanta falta fazem aos nossos ecossistemas (rurais e urbanos também!) - a nós! que queremos comer a frutinha e a saladinha, mas sem ter que lidar com a chatice “dos bichos”?
Quantos relvados sintéticos mais irão adornar os espaços ao ar livre, até percebermos que há outro tipo de verde que pode dar um bocadinho mais de trabalho mas vale muito mais a pena?
Será que vamos algum dia reconciliar-nos verdadeiramente com a Natureza? Será que conseguiremos livrar-nos do estigma do campo e do falso conforto do plástico? Será que algum dia voltaremos a conseguir apreciar os sons do mundo que não são produzidos por seres humanos?
Eu sei que conhecer a importância de todos estes elementos é o primeiro e mais importante passo para aprender a amá-los e querer protegê-los, e esforço-me todos os dias no meu trabalho para que esse conhecimento chegue a cada vez mais pessoas. Mas às vezes a luta parece inglória.
Será que os amantes da Natureza de Leiria conseguem ajudar-me a mudar esta realidade?