Editorial
Novos empreendedores
Hoje, muitos dos nossos compatriotas arriscam regressar, no tempo que acham certo, para acrescentar valor às suas terras de origem e ao País
Há quem não se lembre, mas a nossa região já foi uma grande cliente do SudExpress. O comboio que ligava Lisboa a Paris, tinha paragem, ao final da tarde, em Pombal. Havia bilhete com ‘couchette’ ou sem ‘couchete’. O que era o mesmo que ter um lugar onde esticar o corpo durante a noite ou arriscar umas horas no chão frio das carruagens, muitas vezes apinhadas de passageiros.
Quem viajava de mochila às costas, por norma, poupava no suplemento da carruagem-cama. E quem regressava de umas férias em Portugal também. Excepto os estrangeiros, muitos deles ainda em festa, depois de vários dias de sol no Algarve, de boémia em Alfama, e de cerveja quase ao preço de um prato de tremoços.
Naturalmente, a interacção fazia-se mais entre os portugueses. Os que ocupavam o porta volumes com malas gordas e caixas de cartão, com cheiro a queijo e chouriço, e, em alguns casos, a bacalhau. A tristeza da partida, era evidente nos semblantes carregados. Mas por pouco tempo. Depressa se faziam amizades e se afogavam as mágoas em conversas movidas a Sagres, tinto da terra ou bagaço caseiro.
Já na viagem de volta, a partir da Gare du Nord, era a alegria que povoava a maior parte dos rostos. Formavam-se equipas para umas partidas de sueca, a cerveja era comprada no bar do comboio e os porta volumes vinham ainda mais cheios, com malas a rebentar pelas costuras e embalagens de ‘recordações’ encontradas na poubelle, nos arredores da capital francesa.
As histórias resvalavam quase sempre para os mesmos temas: ou era a saúde ou era a casa. Resumindo, elencavam-se os receios da falência física depois de anos a sopa de feijão e pouco mais, evocava-se a esperança na protecção divina da Nossa Senhora de Fátima e revelava-se o sonho de uma vida: construir uma casa, comprar um terreno de cultivo e esperar pela generosa reforma para regressar de vez.
Como se pode constatar nas páginas de abertura deste jornal, este já não é o perfil dominante do emigrante. Hoje, muitos dos nossos compatriotas arriscam regressar, no tempo que acham certo, para acrescentar valor às suas terras de origem e ao País. Não se limitam à velha ambição de trabalhar para erguer pelo menos uma moradia, querem ser também o motor de desenvolvimento das suas comunidades.
O Mário, a Celeste e o Vítor, são apenas alguns entre tantos outros exemplos empreendedores.