Editorial
O drama dos inocentes
É dramática a quantidade de famílias separadas por esta guerra e serão poucos os ucranianos que não tiveram um familiar, um amigo, um conhecido, deslocado, morto ou ferido pelos bombardeamentos
As palavras são de Catherine Russell, directora-executiva da UNICEF: desde o início da entrada das tropas russas na Ucrânia, milhares de crianças “foram mortas, feridas, forçadas a abandonar as suas casas, perderam o acesso à educação e viram ser-lhes negados os benefícios de um ambiente seguro e protegido”.
Amanhã, dia 24 de Fevereiro, completa-se um ano de conflito. São conhecidos os efeitos na economia global, na política geoestratégica, na vida de cada um de nós, com a inflação a disparar para valores aos quais não estávamos habituados há perto de três décadas. Mais difíceis de contabilizar são as consequências sociais, emocionais e geracionais.
Num apelo feito na semana passada aos doadores internacionais, o Escritório para os Assuntos Humanitários das Nações Unidas pediu 3,6 mil milhões de euros para fazer face às necessidades urgentes dos mais de 11 milhões de ucranianos em dificuldades no país. E solicitou 1,5 mil milhões de euros para apoiar os mais de quatro milhões de pessoas que fugiram da guerra e se refugiaram em nações vizinhas, um fluxo migratório constituído quase a 90% por mulheres e crianças.
Os números, por si só, são impressionantes. Mas o mais impressionante é que têm uma família, uma vida, um rosto associados. É dramática a quantidade de famílias separadas por esta guerra e serão poucos os ucranianos que não tiveram um familiar, um amigo, um conhecido, deslocado, morto ou ferido pelos bombardeamentos, como vos damos conta no trabalho de abertura deste jornal.
Sem sinais de paz no horizonte, atentando nas declarações recentes do presidente russo e na promessa dos países aliados da Ucrânia do envio de mais equipamento militar, tudo leva a crer que o conflito se irá prolongar, assim como as consequências devastadoras, sobretudo para os menores, que vão continuar a perder pais e irmãos, os seus lares, escolas e lugares para brincar, a ver o seu futuro hipotecado.
Como refere a directora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, “nenhuma criança deveria nunca ter de suportar este tipo de sofrimento”.