Opinião
O Governo das contas (in)certas e a TAP
No que às contas certas diz respeito, não há palavras para descrever a recente estória da carochinha à volta da TAP
Nas últimas semanas, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado, o Governo socialista não se cansa de passar a mensagem de que é um governo de contas certas, algo que não é característico do PS quando governa.
Basta lembrar que foi pela sua mão, e responsabilidade, que Portugal já viveu vários momentos dramáticos, com desequilíbrios económico-financeiro graves, bastando recuar a 2011 para recordarmos a situação de pré-falência do Estado, sob a liderança de José Sócrates, que levaria à intervenção da troika no nosso País, com todas as consequências que daí advieram, designadamente sociais.
Foram tempos difíceis, de 2011-2015, onde as questões orçamentais foram pormenorizadamente monitorizadas pela União Europeia, tendo Portugal saído do programa de apoio antes do tempo previsto, mérito dos portugueses e do Governo socialdemocrata, liderado por Pedro Passos Coelho.
Por isso, muito admira a retórica socialista actual sobre as contas certas, bastando recordar a enorme trapalhada com a questão das pensões, onde ficou por explicar o que vai acontecer em 2024, sendo que com a proposta de Orçamento do Estado para 2023 se constata que os pensionistas vão perder uma pensão, os funcionários vão perder um salário e os que beneficiam de prestações sociais vão perder meia pensão social, traduzindo-se num claro empobrecimento dos portugueses.
Mas, no que às contas certas diz respeito, não há palavras para descrever a recente estória da carochinha à volta da TAP, da autoria do Governo socialista, pela voz do ministro Pedro Nuno Santos. Vale a pena recordar que a privatização da transportadora aérea era um objectivo perseguido há vários anos, operação que ficou concretizada em 2015, com a maioria do capital a ficar em mãos privadas.
Eis que, na embriaguez da gerigonça, chega o Governo socialista revertendo a privatização, para um modelo híbrido, 50%+50%, mas controlo público, com grande alarido, já que era um atentado Portugal não ter uma companhia aérea de bandeira, o que significaria uma perda imensa para o País. Segundo as palavras de Pedro Nuno Santos, e cito “…seria um desastre do ponto de vista económico e social, o país perder a TAP….e acham que nós podemos dar ao luxo de deixar cair a TAP.”
Mais palavras para quê? Para tal, lá se foi continuando a injectar dinheiro público, corrijo, recursos de todos os portugueses, tendo até há 2 anos o ministro Pedro Nuno Santos afirmado que a TAP tinha condições para pagar um empréstimo de 3,2 mil milhões de euros, em 2025. E o que sabemos agora? Que afinal a TAP não vai pagar nada, ou seja, não vai devolver os 3,2 mil milhões de euros que o Estado, através do plano de reestruturação, injectou na companhia aérea.
Dito por outras palavras, mais uma vez são os portugueses a pagar uma factura duma companhia aérea que ainda recentemente informou que admite cancelar até 7 voos por dia, em média, entre os dias 15 de Novembro e 31 de Dezembro. E o que anuncia agora o Governo, do mesmo primeiro- -ministro António Costa e do mesmo ministro da tutela, Pedro Nuno Santos? Que afinal a TAP vai ser reprivatizada! E é este o Governo das contas certas, que desperdiça 3,2 mil milhões de euros?