Opinião

O mar profundo está a salvo?

12 abr 2025 16:28

O mar profundo mais próximo de Portugal é rico em incrustações de cobalto, depositadas no leito marinho

No passado dia 31 de março foi publicada, em Diário da República, a moratória sobre a mineração em mar profundo até 2050. Portugal é, assim, o primeiro país europeu a ter uma moratória formalmente aprovada. A mineração do mar profundo pretende extrair depósitos minerais valiosos, situados a centenas ou milhares de metros abaixo da superfície.

Os minerais valiosos que existem no mar profundo incluem cobre, cobalto, níquel, zinco, prata, ouro e terras raras, fundamentais para o desenvolvimento de tecnologia de ponta, bem como para tecnologia limpa e de carbono zero, como as baterias. O mar profundo mais próximo de Portugal é rico em incrustações de cobalto, depositadas no leito marinho.

De acordo com o World Resources Institute, uma organização científica independente internacional, a sua extração assemelhar-se-ia a um arado a lavrar a terra, removendo a camada superficial. Em seguida, os materiais seriam recolhidos para navios à superfície, onde seriam processados, sendo os resíduos resultantes seriam novamente depositados no mar.

Os grandes apologistas da mineração do mar profundo defendem que a atividade ajudará a colmatar a necessidade urgente de matérias-primas críticas, uma necessidade que será cada vez maior. Vários estudos concluíram que não há escassez destes recursos, mas encontrar as reservas viáveis tem sido um verdadeiro obstáculo.

Quando se começou a ponderar a exploração do mar profundo, pensava-se que este era desprovido de vida. No entanto, desde 2021, os cientistas têm-se dedicado a estudar esta zona do planeta, considerada o habitat mais extenso que existe, albergando uma biodiversidade surpreendentemente elevada, apesar de ser um ambiente sem luz, frio e escasso em alimento.

Só agora a Humanidade está a conhecer melhor o mar profundo, pelo que não se sabe até que ponto este habitat pode resistir a perturbações causadas pelo Homem, como a mineração, a poluição e as alterações climáticas. Este adiamento, formalmente dotado pelo país, deve ser aproveitado para uma melhor compreensão das reais necessidades dos minerais do mar profundo.

Será possível aperfeiçoar os processos de extração das reservas de minerais na superfície, reduzindo o seu impacte ambiental? E a reciclagem de resíduos, nomeadamente de equipamentos elétricos e eletrónicos, assim como de baterias, não deverá ser equacionada como uma fonte alternativa de minerais? Poderão ser desenvolvidas baterias cujos componentes não dependam de matérias-primas críticas, mas sim de materiais abundantes e de fácil acesso? Muito há ainda por descobrir e desenvolver até 2050. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990