O Ocidente isolado num mundo multipolar

Passado mais de um ano sobre o início da guerra na Ucrânia começa a tornar-se claro que este conflito é apenas um trágico episódio num mundo em transformação. As esferas de poder/influência estão a mudar e infelizmente a Ucrânia apenas está a ser usada como meio para atrasar a inevitabilidade da passagem do mundo unipolar para um mundo multipolar. O mundo unipolar, em que o Ocidente, liderado pela força militar e financeira dos Estado Unidos da América, impunha unilateralmente as suas regras, as quais declarava como universais, acabou. 

A maioria dos países do mundo não aceitam mais que essas regras apenas lhes sejam impostas a eles e que o Ocidente as viole sempre que lhe for conveniente, como foram os casos das invasões da Jugoslávia, Iraque e Líbia sem autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Não se consegue explicar porque os bancos ingleses continuam a reter toneladas de ouro venezuelano enquanto os venezuelanos passam por problemas económicos e socais muito graves. 

Também não se compreende o silêncio do Ocidente, Europa e EUA a respeito da destruição dos gasodutos Nord Stream 1 e 2. Segundo o jornalista norte-americano Seymour Hersh foram os EUA que planearam e executaram esta operação que só pode ser classificada como terrorismo de Estado. Estes dois gasodutos eram fundamentais para a economia europeia tornando assim os produtores americanos de gás os principais fornecedores europeus a um preço muito mais alto do que o praticado pela Rússia. 

É inevitável que a nova organização geopolítica do mundo seja multipolar. No mundo multipolar há distintos centros de poder que exercem influência no campo político, económico e militar. Além dos Estados Unidos, países como a China, Rússia, Índia, Irão e Indonésia são novos centros deste mundo multipolar. Bem podem os órgãos de comunicação social, controlados pelo ocidente, tentarem esconder esta realidade.

Um estudo da Universidade de Cambridge, realizado em outubro de 2022, a 137 países que representam 97% da população mundial, sobre atitudes em relação aos EUA, à China e à Rússia são bastante claros sobre o isolamento do Ocidente. 

Apenas uma pequena minoria da população do mundo tem uma opinião positiva sobre os EUA e uma atitude negativa sobre a China e a Rússia cerca de 1,2 mil milhões de pessoas enquanto a grande maioria, mais de 6 mil milhões de pessoas têm uma atitude positiva sobre a Rússia e China e negativa sobre os EUA. 

Talvez seja por este motivo que a grande maioria dos países do mundo se tenham recusado a aplicar sanções à Rússia decretadas pelos Estados Unidos e União Europeia a pretexto da guerra na Ucrânia.

Como afirmou o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Índia, S. Jaishankar, “a Europa tem de deixar de pensar que os problemas da Europa são os problemas do mundo e começar a pensar que os problemas do mundo não são os problemas da Europa”.