Opinião

O palco do nosso descontentamento

2 fev 2023 16:32

Ser cidadão de corpo inteiro implica investir tempo e esforço para tentar perceber o que nos rodeia

Há um país real fora dos gabinetes do poder. É um país cansado, impotente, com pouca esperança no futuro e do qual os jovens – os que podem – fogem.
A distância entre quem nos governa e a realidade, cresce. A classe política parece habitar um outro Portugal, um país de números e inaugurações, hotéis alcatifados e bons restaurantes, carros com vidros fumados e mordomias obscenas, se comparadas com as pobres vidas da maioria das pessoas.

Encontrar casa tornou-se impossível – mais cara em Lisboa que em Madrid ou Milão – trabalhar a tempo inteiro não garante capacidade de sobreviver, a escola obrigatória não significa aulas a todas as disciplinas para os nossos filhos, chamar o 112 já não garante ambulância a tempo e ir a uma urgência também não garante atendimento em tempo útil.

Na lista interminável de queixas que todos temos há uma verdade que se vira contra nós: o alheamento a que a maioria dos portugueses, desde há muito, votou a vigilância cívica, e que contribuiu grandemente para o estado de coma em que a democracia se encontra. 

Ser cidadão de corpo inteiro implica investir tempo e esforço para tentar perceber o que nos rodeia, ler a realidade para além das muito tendenciosas histórias que ‘comentadores’ de TV teimam em impingir-nos. E é só nessa militância cívica que podemos tentar ler entrelinhas e tentar defender-nos com as poucas armas que temos: o voto, a crítica, a intervenção cívica, a associação em grupos que possam fazer pressão.

Votar de tempos a tempos é manifestamente pouco. Exigir informação clara sobre programas, cobrar promessas eleitorais é uma ínfima parte do que podemos fazer. O poder – o poder dos números está do nosso lado, do lado de quem vota. Nós, os eleitores, somos incomensuravelmente muitos mais que eles – os eleitos.

Falta-nos sobretudo saber. Saber o que se passa verdadeiramente, como é nos países mais desenvolvidos, como fazer ouvir a nossa voz, como defender os nossos direitos, como cooperarmos, como contribuir para um país melhor. E isso, meus amigos, dá um trabalho permanente e nunca terminado.

Temos no entanto apenas duas opções: encolher os ombros e assumir que nada podemos fazer. Ou tentarmos deixar um legado de mudança aos nossos filhos.

Comprem jornais, leiam jornais, ouçam programas de rádio, vejam programas de análise política, leiam livros, peçam a quem confiam, referências. Façam a vossa parte. Acompanhem as Assembleias Municipais!! Passam em directo no Facebook e ficam gravadas para verem em diferido. Acreditem que o melhor e o pior da nossa política local está ali, ao vivo e a cores.

Votem. Exijam. Escolham. Tomem parte no processo de decisão das vossas vidas.

Mandem e-mails a quem decide – é simples está tudo na net. Escrevam cartas aos directores de jornais, juntem-se em associações. 

Ou então depois não se queixem de ter o dinheiro dos vossos impostos desbaratado em inutilidades enquanto vos dizem que não há dinheiro para o essencial.

Os nossos filhos merecem um país melhor, não acham?