Opinião
O Pinhal do Rei nunca mais voltará
Nunca na minha vida lidei com uma instituição tão ineficaz como o ICNF. Quem manda é fraco e quem tem a culpa disso é o Governo de Portugal. Se nada mudar radicalmente nunca mais teremos Pinhal do Rei
Há seis anos, o Pinhal do Rei, também conhecido por Pinhal de Leiria (apesar de 100% do mesmo ficar dentro do concelho da Marinha Grande) ardeu quase por completo.
No mandato autárquico que começou logo após o grande incêndio, desempenhei as funções de adjunto da então Presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, a Professora Cidália Ferreira, e tive a oportunidade de presenciar de perto a pressão que a Presidente aplicava sobre o Governo e sobre o ICNF, os dois gestores e responsáveis únicos pelo Pinhal do Rei.
Durante todo o mandato fiz questão de, aos fins de semana, levar a minha família (às vezes contra vontade deles) a passear no Pinhal do Rei para conseguir acompanhar a evolução do Pinhal. Desta forma, conseguia saber, onde há muita regeneração natural dos pinheiros e onde não há nada. Nas reuniões que tinha com o ICNF frequentemente questionava pela regeneração natural e a realidade é que os responsáveis do ICNF muitas vezes tinham informação errada, o que para mim, para além de surreal, era incompreensível. Nunca na minha vida lidei com uma instituição tão ineficaz como o ICNF. Não quero com isto dizer que os técnicos do ICNF são incompetentes ou que trabalham pouco. Quero, isso sim, dizer que quem manda no ICNF não está preocupado com o Pinhal do Rei, quem manda é fraco e quem tem a culpa disso é o Governo de Portugal.
É com muita pena minha que o digo: se nada mudar radicalmente na gestão do Pinhal nunca mais teremos Pinhal do Rei.
Há muitas zonas do Pinhal que foram replantadas com pinheiros de viveiro que, como o próprio Rogério Rodrigues (à data presidente do ICNF) admitiu em 2019, tem taxas de mortalidade de 70%, ou seja, pouco podemos contar com estas zonas como futuras zonas de Pinhal.
Há, de facto, zonas do Pinhal com regeneração natural: se percorrermos a estrada principal que liga a Marinha Grande à Vieira de Leiria e se andarmos em alguns dos aceiros do pinhal nessa zona podemos ver uma excelente regeneração natural na zona perto da estrada, ou seja, a zona mais interior, irrigada e abrigada pelo cordão dunar. No entanto, mesmo nesta, que é a melhor área do Pinhal atualmente, é fácil constatar um grande descontrolo de espécies invasoras como as acácias que, para além de retirarem recursos e espaço aos novos pinheiros, potenciam incêndios futuros que, certamente, acontecerão.
Na larga maioria do restante espaço dos quase 10 mil hectares ardidos em outubro de 2017 não há nem replantação pela mão humana nem regeneração natural. Basta contar quantos pinheiros se encontram num enorme rectângulo, que, em largura, é da Marinha Grande a São Pedro e, em comprimento, vai de norte do Alto dos Picotes até quase à Praia das Paredes da Vitória. Temo que esta zona seja sempre aquilo que é: uma espécie de deserto com rastejantes e invasoras a cobrir a areia.
O Governo de Portugal tem que mudar as lideranças do ICNF urgentemente e tem que dotar o instituto de meios financeiros e humanos para que este comece, desta vez a sério, a replantar convenientemente o Pinhal de todos nós.
A título de curiosidade ainda não vi nenhuma ação relevante do agora presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, Aurélio Ferreira, que quando era da oposição prometia forçar o ICNF e o Governo a cuidar do Pinhal.