Opinião
O turista apressado
Não desejamos o turismo barato, descartável. O turismo “pimba” e saloio. Porque esse é o turismo dos países sem futuro turístico
O turista apressado
1 - O turismo está como nunca esteve. Os números falam por si: ultrapassaremos o melhor ano, o de 2019. E o turismo toma conta, assim, de parte do sucesso da nossa economia.
Portugal deixou de ser País periférico, para ser destino preferencial. A Espanha já o era, há décadas, mas chegou agora também a vez de Portugal. Sempre nos perguntámos porque ficávamos à margem com tanto património magnífico e tanta capacidade de bem receber. Naturalmente sempre se deu conta que até pelo menos há duas décadas as políticas de promoção internacional tinham estratégias erráticas, para além de poucos meios e de pouca consistência. E que as conjunturas internacionais favoreciam outros destinos, que não Portugal.
2 – Agora, que estamos em alta, sempre diremos o mesmo: não queremos o turismo apressado. O que acumula o maior número de experiências de visitas, no menor tempo possível.
Essa não é a experiência memorável ou, pelo menos, emocionante. É a experiência do efémero, do fogo-fátuo, do ver por ver. A que não deixa vínculo, nem provavelmente vontade de voltar.
É a experiência do turista que se “encaixa” num pacote de uma qualquer agência e é levado sem saber bem para onde e porquê. É o turista que, no final, fica farto.
É o turista que não tem tempo de visitar o monumento, porque tem que almoçar à pressa, para seguir para outro. O que só visita os espaços gratuitos porque o pacote naquele dia só permite escolher entre o bacalhau à brás ou a entrada paga no monumento; o turista que enxotado à força para o autocarro, não tem tempo de comprar nas lojas em redor do monumento, de saborear mais uma cerveja e uma sandes nos cafés da praça, de almoçar em outros restaurantes que não os “determinados”.
Não desejamos o turismo barato, descartável. O turismo “pimba” e saloio. Porque esse é o turismo dos países sem futuro turístico.
3 - Esses também não são os turistas das empresas de qualidade, acompanhados por guias-intérpretes creditados, conhecedores do património que visitam. Os guias-intérpretes que se distinguem no rigor da apresentação, que fazem visitas de qualidade, que prestigiam a experiência turística e, por essa via, prestigiam a cultura do país (como conheço tantos!).
Mas até aí, o sistema foi desregulado. Nem sabemos bem porquê. É guia quem quer. Não é preciso estudar, não é preciso certificação, não é preciso prestar provas. Basta arrebanhar clientes e dizer que é guia.
4 – Cuidado, então, para que o prestígio turístico não se desbarate na política do lucro fácil, do enriquecimento rápido, do desenrasque. Que o turismo não se deprecie na cerveja barata e na passagem a correr.