Editorial

Pais alienados 

31 ago 2023 08:00

Se o problema não for encarado com bom-senso, as marcas para os casais desavindos e para os filhos podem ser profundas

A alienação parental é uma realidade dolorosa, muitas vezes digerida em silêncio, que afecta cada vez mais famílias. É uma forma de abuso emocional, por norma resultante dos processos de divórcio ou separação, e pode ter consequências devastadoras para todas as partes envolvidas, principalmente para as crianças, apanhadas no meio de um conflito que não é o seu.

Como se pode deduzir do trabalho de abertura desta edição, o fenómeno ocorre quando um dos pais, motivado por ressentimento, raiva ou outros sentimentos negativos em relação ao ex-parceiro, utiliza tácticas de manipulação para minar o relacionamento da criança com o outro progenitor, recorrendo à difamação, à limitação de acesso ou até mesmo a acusações falsas.

As crianças, num esforço para agradarem ao membro alienador ou evitar conflitos, muitas vezes interiorizam estas mensagens e as relações familiares entram em ruptura.

E apesar de a Justiça pautar a sua actuação com o foco no superior interesse da criança, quem toma as decisões nos tribunais ou elabora os pareceres técnicos, nem sempre está sensibilizado ou preparado para identificar no processo os sinais de alienação, segundo os testemunhos que recolhemos.

Quer isto dizer, que se o problema não for encarado com bom-senso, e não for possível enveredar pelo caminho do entendimento, as marcas para os casais desavindos e para os filhos podem ser profundas e de longo prazo. Uns e outros arriscam vir a sofrer de depressão, ansiedade, baixa autoestima e dificuldades em desenvolver relacionamentos saudáveis no futuro.

O Núcleo de Pombal da Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos (APIPDF) assume, por isso, um papel fundamental na prevenção e reparação de danos provocados pela alienação parental, ao proporcionar um espaço neutro onde os pais podem expressar as suas preocupações perante outros pais com o mesmo problema e disponibilizar ferramentas que podem orientar as discussões para acordos de co-parentalidade mais saudáveis.