Opinião
Pensar a mobilidade com alternativas
O aumento populacional nas cidades levou ao aumento do tráfego automóvel, o que trouxe consigo uma enorme diminuição da qualidade do ar, existência de espaços verdes e pedonais e aumento de dificuldades de deslocação e estacionamento.
Ironicamente, o automóvel, criado para aumentar a nossa mobilidade, está, hoje em dia, a limitá-la.
Esse aumento populacional nas cidades vai continuar e, assim, agravar todos os problemas que daí advêm. Os problemas de mobilidade daqui gerados impactam direta e indiretamente a nossa qualidade de vida, seja pela cada vez pior qualidade do ar que respiramos, seja pelas horas intermináveis que gastamos "presos" no trânsito ou na busca por um estacionamento.
Há que dotar as cidades de infraestruturas que permitam alternativas de transporte que não o automóvel convencional. Temos de melhorar muito os transportes públicos, especialmente em Leiria, e temos que criar condições para a circulação de outras formas de mobilidade, como a bicicleta, oferecendo conforto e segurança aos seus utilizadores.
Nesta última, há que dotar as vias com separação de tráfego, nomeadamente ciclovias, ou em alternativa aplicar sinalização horizontal, às vias já existentes, que mantenha os condutores de automóveis atentos à presença de outros tipos de mobilidade nessas vias.
Há quem pergunte "para quê construir ciclovias quando estas, atualmente, são pouco usadas?"
Este argumento é frequentemente apresentado quando se fala de melhorar ou construir as vias cicláveis pois estas ainda são vistas como sendo apenas para usufruto ocasional e de lazer.
Se tomarmos como exemplo as ciclovias existentes na cidade de Leiria, além de serem muito poucas, elas estão desconectadas umas das outras. Para chegar a estas ciclovias ou para continuar a sua viagem, um utilizador terá impreterivelmente de voltar a partilhar a via com o automóvel.
Por experiência própria, isso acarreta riscos que não são aceitáveis, levando-me a ponderar se devo ou não utilizar a bicicleta para as minhas deslocações dentro da cidade. Se estas vias forem interligadas e desenhadas para otimizar a mobilidade certamente serão utilizadas.
Leiria não é totalmente plana mas tem muitas zonas residenciais que têm um trajeto plano até ao centro da cidade - exemplos: das Cortes, passando pela Guimarota até ao centro de Leiria; da Barosa ou da Gândara ao centro da cidade, entre outros.
Há milhares de Leirienses que, caso lhes seja dada segurança, optarão pela bicicleta para se deslocarem para o seu trabalho.
Um bom exemplo de que se dotarmos uma cidade com infraestruturas específicas podemos mudar mentalidades e melhorar a qualidade de vida é o circuito POLIS que, hoje em dia, é utilizado por milhares de leirienses para a prática de desporto ou lazer.
O futuro da mobilidade, dentro das cidades, não passa certamente pelo automóvel, o espaço é limitado e o automóvel consome demasiado espaço físico, além da poluição inerente ao mesmo. Há que incentivar e motivar as pessoas a utilizarem formas alternativas de se deslocarem, se sentirem seguras e confortáveis, certamente que o farão.
*Movimento Mobilidade Sustentável