Opinião
Política vs Politiquice
Para se fazer melhor política, temos mesmo de acabar com as politiquices
Sim, o tema deste mês é aborrecido de morte! A política nacional (para a qual tenho pouca paciência) cristalizou num tempo que nem sequer é uma data - é antes um estado de espírito bafiento e mesquinho. Alimenta-se de tudo menos daquilo que interessa - que é, de resto, um estado de coisas muito conveniente para o centrão que governa à vez.
Mas anda a coisa tão lamacenta, que dei por mim a sentir uma estranha necessidade de opinar sobre o assunto, porque nos sinto a desviar perigosa e completamente das questões essenciais. Se é para questionar decisores políticos, gostava de fazer umas alterações: em vez de perguntar “com quem é casada a Secretária de Estado?”, perguntemos antes quem colocaria em lugares de confiança política pessoas que não tivessem ideias semelhantes às suas ou que lhes sejam próximas; ou até se colocamos a mesma questão em relação ao sector privado.
Claro que tem de haver escrutínio de competências, incompatibilidades, e ilegalidades! Mas não baseada em critérios de conversa de snack-bar, que me parece ser o tom em geral… Quando um tweet aparecer com uma foto de 2000-e-lá-atrás do político quando era jovem, questionem-se se é mesmo “em que festas e que figuras andou a fazer?” o que querem perguntar, ou se não será antes “que posições e políticas defende agora, publicamente, com o poder que tem”?
Quando surgir aquela pergunta básica marota de “há quantos anos não dá aulas o sindicalista?”, lembrem-se que não é isso que importa, mas sim se defende ou não os interesses de quem representa. E por fim, a pergunta que mais raiva me dá, como pessoa que estudou Ciência Política e que acredita que esta é uma profissão de valor intrínseco fundamental para a sociedade: “que conhecimentos técnicos e experiência profissional na área tem o governante”?
Meu povo: para tecnocratas, já nos chegam os da UE, do BCE, do FMI ou da Troika. Eu quero políticos que saibam pensar o país; que tenham visão estratégica; que pensem o futuro e tenham imaginação para solucionar problemas; que saibam que governam com a legitimidade da maioria, mas a ter que incluir as minorias; que saibam rodear-se dos melhores técnicos para aconselhar, sim, mas tendo noção que atrás de números de cada decisão existem pessoas.
Pois… para se fazer melhor política, temos mesmo de acabar com as politiquices!