Opinião
Por mares e ares
De facto, Portugal não se entende com os ares! Será, certamente, por ser uma área recente
“As armas e os barões assinalados, | Que da ocidental praia Lusitana, | Por mares nunca de antes navegados, | Passaram ainda além da Taprobana, | Em perigos e guerras esforçados, | Mais do que prometia a força humana, | E entre gente remota edicaram | Novo Reino, que tanto sublimaram;” – Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto 1
Camões iniciou assim a sua obra magna. Uma descrição épica de um povo heroico, que usou o mar para construir a sua grandeza, e dar novos mundos ao mundo.
Esta narrativa foi difundida e mantém-se nostalgicamente até hoje, quando faz pouco sentido: da grandeza e riqueza dos séculos XVII e XVIII sobram apenas decrépitos templos e arruinados palácios banhados a ouro.
Ainda assim, e a despeito de azares marítimos como barcos que se esquecem de abastecer e marinheiros que têm medo de andar de barco, Portugal continua a ser sobretudo um País de mar. Não por causa dos mais de 900 quilómetros de costa que temos no continente (a que se somam praticamente outros tantos nas regiões autónomas), mas porque o nosso País se dá muito mal com aviões e afins.
Vejamos a sempiterna discussão sobre o novo aeroporto. Discutido desde os anos 1970, chegamos a 2023 com uma comissão a analisar propostas para, eventualmente, um dia ser tomada uma decisão e um outro dia o dito ser construído. Pelo caminho, políticos que afirmam que certa localização “jamais”, outros que falam de dinamite, outros que são repreendidos por tentarem decidir algo.
Para além do aeroporto, temos recorrentes novelas sobre a TAP. Companhia aérea de bandeira, oscila entre o indispensável e símbolo de soberania a um incomportável sorvedouro de dinheiro, sem haver forma de se entenderem. Como cereja asquerosa no topo de um bolo de engulho, há uma novela no parlamento que entretém políticos, comentadores, e “jornalistas/entertainers”.
Como se não bastasse, temos agora o primeiro-ministro que fez uma escala a meio de uma viagem de avião para ver a bola! Certamente pensando que abastecer o Falcon da Força Aérea demorava tanto como carregar um carro elétrico na garagem, resolveu aproveitar o tempo! De facto, Portugal não se entende com os ares! Será, certamente, por ser uma área recente.
Afinal, a aviação tem pouco mais de um século, houve pouco tempo para absorver e interiorizar estas tecnologias. A transição naval-aérea precisa de um apoio: penso que parte dos fundos que recebemos como um maná dos céus devia ser aplicada a dar formação aos nossos governantes sobre estas tecnologias do mundo aéreo.