Opinião
Portugal 2020
Dez anos nos separam desta data. Os números redondos são atrativos para agendas e objetivos políticos
Portugal em 2010, 2020 e agora a agenda 2030. Uma das coisas que a evidência nos mostra é que, no nosso país, estamos constantemente a correr sem sair do lugar.
O próximo período de 10 anos será marcado por novos desafios e velhos problemas.
O primeiro desafio é o pós-pandemia. Com várias vacinas no horizonte teremos uma recuperação em “V” ou em “U”? E o turismo, recuperará?
Não sou arauto dos que dizem que a aposta em turismo é errada (não é, temos vantagem comparativa) ou que devemos apostar na re-industrialização (já escrevi várias vezes que a indústria do futuro é intensiva em I&D e conhecimento e não temos capital humano ou dimensão empresarial suficiente).
Os países europeus continuam atrás dos EUA e da China no que concerne à capacidade de inovar em áreas como a inteligência artificial ou TI como um todo.
As empresas americanas conquistaram a liderança da economia intangível (90% do valor das empresas vem, no século XXI, de intangíveis – capital humano, patentes, marcas, dados, algoritmos) e irão continuar a dar cartas a nível global (a não ser que sejam divididas pelas leis anti monopólio).
Até na clássica indústria automóvel a Tesla se tornou a maior empresa (em capitalização de mercado).
As apostas europeias e nac ionais, ainda que acertadas no que concerne à criação de negócios sustentáveis, tecnologias verdes, maior intensidade de conhecimento, não têm respondido totalmente àquilo que são os drivers da competitividade de países e nações.
Leiria tem também de fazer uma transição para uma região de alta tecnologia, com reconfiguração de parte dos seus setores (industriais, agrícolas, etc.) para a Indústria 4.0.
No entanto, o pós-crise parece que irá gerar alguns fenómenos positivos.
A União Europeia decidiu-se finalmente por uma maior harmonia de política económica e já não é tabu falar de obrigações europeias ou de uma “proto” segurança-social europeia.
Por outro lado, o investimento verde é uma aposta fundamental para algo que pode significar uma pandemia todas as décadas ou, quem sabe, triénios (as alterações climáticas).
Simultaneamente, dos EUA surgem bons sinais, de uma reabertura económica e menos protecionismo (e populismo), que tem prejudicado o comérc io mundial (e, indiretamente, alguns setores da região de Leiria).
O trabalho, um pouco por todo o mundo, parece que irá reconfigurar-se para um misto de digital e físico, com recurso a realidade aumentada que permitirá reuniões quasepresenciais, com novos softwares de interação, mas também maior liberdade para o bem-estar.
Mas continuamos um pouco a leste de resolver problemas de competitividade antigos e centrados em megaprojetos (TGV, aeroporto) que, ainda que necessários, não serão os que nos colocarão em 2030, sem necessidade da agenda 2040.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990