Opinião
Poupar, um ‘luxo’ que poucos conseguem
Conheço casos de idosos que, fruto de anos de sacrifício, amealharam e constituiram um depósito a prazo. Nos últimos anos, com os juros a zeros, o rendimento obtido é insignificante
Há 25 anos, a taxa de poupança dos portugueses era de 14,8%. No ano passado, a percentagem do rendimento disponível que as famílias conseguem guardar situava-se nos 7,2%. Ou seja, menos de metade.
Os dados mostram que ao longo dos anos os portugueses têm poupado cada vez menos e se afastam cada vez mais da média de muitos países europeus.
E este ano não será certamente excepção,considerando o cenário que se vive, com o desemprego ea pobreza a crescerem.
Só uma pequena percentagem da população português a consegue acumular um pé-de-meia. Ao Expresso, a economista Susana Peralta, da Nova School of Businessand Economics, lembra que os dados de 2017 mostram que entre os grandes poupadores estavam 67% dos mais ricos.
Ao mesmo tempo, entre os grupos com menor capacidade de poupar estão os jovens abaixo dos 35 anos.
“Têm uma poupança liquida mesmo muito reduzida, que depois aumenta com o ciclo de vida e volta a diminuir a partir dos 64 anos”.Este sábado assinala-se o Dia Mundial da Poupança e nunca é de mais reforçar a importância de poupar. Até porque, com a população a envelhecer, nada nos garante que as reformas estejam asseguradas daqui a20 ou 30 anos.
Se há cada vez mais idosos a precisar de reforma e cada vez menos jovens a contribuir para o sistema, não é difícil imaginar que cada um terá de acautelar o futuro.
Já para não falar nos imprevistos que podem surgir, e para os quais muitos portugueses também não têm dinheiro. Mas como poupar quando sobra mês e falta ordenado? Não é que os portugueses não saibam que esta é uma prática importante, simplesmente nem sempre a conseguem adoptar.
Um estudo do Observador Cetelem revela que metade dos inquiridos diz poupar sempre que possível ou quando sobra dinheiro, enquanto apenas15% afirma fazê-lo com regularidade mensal,percentagem que traduz uma queda de 7 p.p. face ao ano passado.
Subsídios e prémios são usados por 9% dos inquiridos para constituir poupança. Ora, com a situação de crise que se vive, não é difícil prever que estes números irão cair.
À quebra na poupança junta-se o endividamento das famílias. E das empresas, que estão descapitalizadas. Faltam medidas de incentivo à poupança, que poderiam passar, quanto mais não fosse, por menos carga fiscal.
Conheço casos de idosos que, fruto de anos de sacrifício, conseguiram amealhar e constituir um depósito a prazo. Nos últimos anos, com os juros a zeros, o rendimento obtido é simplesmente insignificante.
Dos juros obtidos,mais de metade foi para pagar impostos.
Como é que se incentiva a poupança assim?