Opinião

Prostrado no chão

11 mar 2017 00:00

«Prostrado no chão» daria um bom título para uma obra de José Saramago.

Este título forte surgiu-me a propósito da publicação do livro de Cavaco. A este também poderíamos chamar «Todos os Nomes», uma obra de Saramago que conta a história de José, um escriturário de cartório do registo civil, que para se distrair do trabalho monótono começa a colecionar recortes de pessoas famosas, depressa descobrindo que afinal os famosos são tão banais como os outros mortais. 

Eis que José parte numa busca desenfreada para, usando meios nunca antes utilizados, alcançar o seu objetivo. Assim fez Aníbal (Cavaco Silva), qual decrépito elefante de guerra, escavacando de forma inglória o seu inimigo numa verdadeira guerra «púnica» demonstrando um taticismo perverso que nem o grande general cartaginês com o mesmo nome alguma vez pusera em prática.

Não sei se Sócrates é culpado ou inocente, sei apenas que, no caso dele, era muito fácil ter evitado a prisão preventiva como medida de coação e igualmente fácil a sua libertação após o sexto mês de reclusão.

No que diz respeito à arena política, é evidente que Sócrates encontra-se esmagado e prostrado no chão, altura em que Cavaco, se tivesse um pingo de dignidade política, nunca poderia ter «espetado a faca» no seu adversário antes de, ao menos, este ser julgado pelos tribunais.

Gostemos ou não, Cavaco tem todo o direito de escrever a sua versão dos acontecimentos, evidentemente que sim. Ele e a sua perspetiva constarão, de forma indelével, nos futuros manuais escolares que abordem o pós 25 de Abril. A sua narrativa contribuirá, certamente, para adensar o estudo deste período da nossa história.

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*Jurista/autor