Opinião

Quase imortais

4 jun 2023 10:21

Foi editado, finalmente, o catálogo da exposição “O saque da cidade de Leiria” que há 46 anos marcou, e ainda marca, uma nova forma de olhar a cidade

Com maior ou menor pompa e circunstância foram paridos três livros que não deviam ser ignorados pelos leirienses. Os dois primeiros receberam alguma atenção, o terceiro nem por isso.

Foi editado, finalmente, o catálogo da exposição “O saque da cidade de Leiria” que há 46 anos marcou, e ainda marca, uma nova forma de olhar a cidade. O catálogo, que é da autoria de Carlota Simões, José Marques da Cruz e Rui Ribeiro, retrata fiel e cuidadosamente o que então se ofereceu à reflexão dos cidadãos sobre o desenvolvimento urbanístico da cidade e a sua relação com aqueles que a habitam, numa exposição marcante construída por Jorge Estrela, Rui Ribeiro e José Marques da Cruz.

A textiverso publicou a segunda edição de Elites Políticas de Leiria: 1910-2000, a primeira edição é de 2015, o retrato que Acácio de Sousa faz daqueles que esboçaram, ao longo dos anos, a paisagem política desta cidade e deste território. Estão lá os nomes, estão lá as datas e, por vezes, as pessoas. Bocados das pessoas. 

O último livro também é edição da textiverso e também foi editado neste frutífero mês de Maio. É Teatro no Bairro de Ana Cristina Luz. Reúne um conjunto de documentos, sobretudo de peças de teatro levadas a cena na Maceira-Liz, nomes, datas e respectivos actores e actrizes, quer no Teatro Liz quer depois na Casa do Pessoal da Empresa de Cimentos de Leiria, num período que se estende entre 1927 e 1970.

É um retrato exemplar das políticas sociais, económicas e culturais do regime corporativo de que podemos encontrar outros exemplos marcantes mas que se encontram neste caso traçadas com exemplar nitidez. 

Como noutros casos, o Teatro marca de modo claro o ritmo da vida cultural dos trabalhadores da cimenteira e este resgate que a Ana Luz faz dos nomes das pessoas que lhe deram corpo e alma.

Este trazer de novo às luzes da ribalta de nomes de pessoas, e de espaços de representação, à muito esquecidos é precioso. Eles fazem parte integrante da história e do tecido cultural do nosso território e, nem que fosse por isso, são, justamente imperecíveis. Pelo menos até não se apagarem as luzes.